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Bradley Wiggins Aceita Ajuda de Lance Armstrong Para Tratamento de Saúde Mental nos EUA

O pentacampeão olímpico Bradley Wiggins enfrenta batalha contra vícios e problemas de saúde mental. Lance Armstrong financia tratamento completo em clínica nos EUA.

Bradley Wiggins Aceita Ajuda de Lance Armstrong Para Tratamento de Saúde Mental nos EUA

O lendário ciclista britânico Bradley Wiggins, primeiro campeão do Tour de France do Reino Unido e pentacampeão olímpico, está passando por um dos momentos mais desafiadores de sua vida. Após anos de luta contra problemas de saúde mental e vícios, o atleta decidiu aceitar a ajuda de uma figura improvável: Lance Armstrong, o controverso ciclista americano que foi banido do esporte por doping. Armstrong está financiando integralmente o tratamento de reabilitação de Wiggins em uma clínica especializada nos Estados Unidos.

Uma Amizade Inesperada Nasce da Dor Compartilhada

A relação entre Wiggins e Armstrong é marcada por altos e baixos. Durante os anos de glória de Armstrong, Wiggins não poupou críticas ao americano, chegando a chamá-lo de “mentiroso descarado” quando as acusações de doping vieram à tona em 2013. No entanto, o tempo e as adversidades aproximaram os dois ex-rivais de uma forma que poucos poderiam imaginar.

Em declarações recentes ao podcast BBC Radio 5 Live, Wiggins revelou: “Lance tem sido uma fonte de inspiração para mim e uma ajuda constante. Ele é um dos principais fatores pelos quais estou na posição em que me encontro hoje, mental e fisicamente. Estou em dívida com ele.”

A Queda Silenciosa de Um Campeão

Após pendurar as sapatilhas em 2016, a vida de Bradley Wiggins entrou em uma espiral descendente. O atleta que conquistou oito medalhas olímpicas (cinco delas de ouro) e fez história ao vencer o Tour de France 2012, viu-se mergulhado em uma batalha invisível contra traumas do passado.

Em 2022, Wiggins revelou publicamente ter sido vítima de abuso sexual por parte de seu treinador quando tinha apenas 13 anos. Este trauma, reprimido por três décadas, veio à tona após sua aposentadoria e desencadeou uma série de problemas graves. O ex-campeão desenvolveu uma dependência de cocaína que quase lhe custou a vida.

“Eu estava fazendo quantidades absurdas de cocaína”, admitiu Wiggins em uma entrevista à Cycling Weekly. “Eu tinha um problema real e meus filhos estavam prestes a me colocar em uma clínica de reabilitação. Eu realmente estava andando na corda bamba. Houve momentos em que meu filho se preocupava que eu fosse ser encontrado morto pela manhã.”

Falência Financeira e Perda de Tudo

Como se os problemas de saúde mental não fossem suficientes, Wiggins enfrentou uma devastadora crise financeira. Declarado falido em junho de 2024, o ciclista perdeu sua mansão em Lancashire, avaliada em quase 1 milhão de libras, e segundo seu advogado, não tinha mais um endereço fixo, vivendo em sofás de amigos.

As dívidas acumuladas contra sua empresa de direitos de imagem, a Wiggins Rights Ltd, chegaram a quase 2 milhões de libras, incluindo mais de 300 mil libras devidas à Receita Federal britânica. Em suas próprias palavras, Wiggins foi “roubado da esquerda, direita e centro”, tendo confiado suas finanças a pessoas erradas durante sua carreira profissional.

O Apoio Surpreendente de Lance Armstrong

Apesar do passado conturbado entre ambos, Lance Armstrong percebeu os sinais de alerta na vida de Wiggins. O americano, que também enfrentou seus próprios demônios após o escândalo de doping que lhe custou todos os sete títulos do Tour de France, ofereceu mais do que palavras de conforto.

Armstrong propôs pagar integralmente o tratamento de Wiggins em um centro especializado de trauma em Atlanta (e posteriormente em Utah), onde os pacientes ficam internados por uma semana, sem acesso a telefones celulares, focados exclusivamente na recuperação psicológica.

Inicialmente relutante, Wiggins recusou a oferta, preferindo tentar se recuperar sozinho. “Há cinco meses atrás, eu pensei que nenhum terapeuta seria educado o suficiente para entender o que estava acontecendo na minha cabeça”, explicou no High Performance Podcast. Mas agora, após um ano de sobriedade e muito trabalho interno, o britânico está pronto para aceitar a ajuda.

Uma Jornada de Doze Meses Rumo à Recuperação

Durante um evento no Barbican de York, Wiggins confirmou que viajaria aos Estados Unidos para iniciar seu tratamento na clínica financiada por Armstrong. O ciclista está agora com 12 meses de sobriedade e frequenta sessões regulares de terapia.

“Estou no melhor lugar em que estive em 44 anos de vida”, declarou Wiggins com convicção. “E isso se deve em grande parte ao fato de eu ter explorado os cantos mais escuros da minha vida. Estive em lugares sombrios por várias razões. Vivi extremos altos com meus sucessos, mas também experimentei, como muitos de nós, o outro lado do espectro. Passei cinco anos desembaraçando tudo isso na minha cabeça.”

Mais Que Redenção: Uma Lição Sobre Humanidade

A história de Bradley Wiggins e Lance Armstrong transcende o ciclismo. Ela nos lembra que mesmo os maiores campeões são, antes de tudo, seres humanos vulneráveis. Armstrong, frequentemente vilipendiado pela mídia e pelo mundo do esporte, demonstra através deste gesto que a redenção pode vir de formas inesperadas.

Sobre Armstrong, Wiggins foi claro: “Ele é um bom homem. Não estou condenando o que ele fez, todos sabemos disso. Mas é um pouco desproporcional comparado ao que algumas pessoas conseguem fazer impunemente neste mundo. Lance tem cinco filhos, é casado e tem um coração ali embaixo. Mas também tem um ego do tamanho de uma casa, não me interpretem mal. O ego é a razão pela qual ele venceu sete Tours.”

Armstrong também ofereceu a Wiggins uma posição de trabalho em seu popular podcast The Move, cobrindo o Tour de France, o que tem dado ao britânico não apenas uma fonte de renda, mas também um senso renovado de propósito e conexão com o esporte que ama.

O Futuro Ainda Está Por Escrever

Wiggins está finalmente assumindo responsabilidade por sua vida. “Finalmente assumi a responsabilidade pela minha própria vida e não estou mais em uma posição onde fico jogando o jogo da culpa”, afirmou. “Penso que meus melhores anos ainda estão por vir.”

Sua recuperação também foi impulsionada pela intervenção de seu filho adolescente, que, em um momento crítico há um ano, ajudou o pai a reconhecer o padrão autodestrutivo em que estava preso. Este momento de lucidez foi fundamental para que Wiggins buscasse ajuda e começasse sua jornada de sobriedade.

A história de superação do ciclista britânico ressoa profundamente no mundo do ciclismo profissional, onde a pressão por resultados e a falta de estrutura de apoio pós-carreira deixam muitos atletas vulneráveis. Wiggins tem defendido publicamente a necessidade de melhores sistemas de suporte para ex-atletas, destacando que a transição da vida profissional pode ser devastadora.

Para mais informações sobre saúde mental no esporte e programas de apoio a atletas, visite o site da Mind UK, organização líder em saúde mental no Reino Unido, ou consulte recursos da Organização Mundial da Saúde sobre bem-estar psicológico.

A jornada de Bradley Wiggins nos ensina que a verdadeira coragem não está apenas em cruzar linhas de chegada, mas em ter a humildade de aceitar ajuda quando mais precisamos. E às vezes, essa ajuda vem de lugares – e pessoas – que menos esperamos.

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