O campeão olímpico de ciclismo Greg Van Avermaet acaba de escrever um novo capítulo na sua carreira esportiva, desta vez longe das estradas e do pelotão profissional. Aos 40 anos, o belga conquistou algo que sempre lhe escapou durante sua brilhante trajetória no ciclismo: um título mundial. A façanha aconteceu no Campeonato Mundial de Ironman 70.3 em Marbella, na Espanha, onde Van Avermaet dominou sua categoria etária (40-44 anos) com uma performance impressionante que mostrou que os grandes campeões nunca param de competir.
A transição de Van Avermaet para o triatlo não foi acidental. Desde que pendurou a bike de corrida no fim de 2023, o belga tem se mantido extremamente ativo, dividindo seu tempo entre eventos de gravel e competições de triatlo. Mas foi na prova de resistência que ele encontrou um novo desafio à altura de sua determinação. Com um tempo total de 4:15:56, o ex-corredor da equipe AG2R Citroën cruzou a linha de chegada com quase cinco minutos de vantagem sobre o segundo colocado, o alemão Wolfgang Teuchner.
A Preparação de Um Campeão
Van Avermaet não chegou a Marbella por acaso. Sua qualificação veio através do triatlo de Knokke, na Bélgica, realizado em 2024. Desde então, o belga tem se dedicado intensamente aos treinos específicos da modalidade. Em junho deste ano, ele já havia mostrado seu potencial ao terminar em segundo lugar no geral no Ironman 70.3 de Nice, mas dominando completamente sua categoria etária.
A preparação para o mundial incluiu treinos sob o sol espanhol e até sessões especiais ao lado de Mathieu van der Poel, outro fenômeno do ciclismo conhecido por sua versatilidade. Em entrevista ao jornal belga Het Nieuwsblad antes da prova, Van Avermaet revelou suas preocupações: “Nadar no mar não é algo a que estou acostumado. Nessa parte, trata-se de escolher uma boa posição e manter uma visão geral ao longo do caminho. Por exemplo, em Knokke nadei bastante na direção errada”, admitiu com honestidade.
O Dia do Título Mundial
No domingo em Marbella, todas as peças se encaixaram perfeitamente. Van Avermaet completou os 1,9km de natação, os 90km de ciclismo e os 21,1km de corrida com uma consistência impressionante. Como esperado, foi na etapa do ciclismo que ele mais brilhou, usando toda sua experiência como profissional do World Tour para abrir uma vantagem significativa sobre os concorrentes.
Mas o que realmente impressionou foi sua corrida de meia maratona, concluída em 1:21:31. O tempo mostrou que Van Avermaet não é apenas um ciclista tentando se aventurar em outra modalidade, mas sim um atleta completo disposto a dominar todos os aspectos do triatlo. O belga Ben De Wolf completou o pódio da categoria em terceiro lugar, mais de seis minutos e meio atrás do compatriota.
Uma Tendência Crescente no Esporte
A transição de Van Avermaet para o triatlo faz parte de um movimento cada vez mais comum no mundo do ciclismo profissional. Cameron Wurf é talvez o exemplo mais emblemático dessa tendência. O australiano, que correu pela Team Sky e Ineos Grenadiers, tornou-se um dos triatletas de Ironman mais respeitados do mundo enquanto ainda competia no World Tour, estabelecendo múltiplos recordes de percurso na etapa de ciclismo.
Wurf, aos 42 anos, conseguiu o que poucos atletas ousaram: dividir sua temporada entre as Grand Tours do ciclismo e as competições de Ironman, provando que as habilidades desenvolvidas no pelotão profissional se traduzem perfeitamente para o mundo do triatlo de longa distância.
Outros nomes conhecidos também fizeram essa transição. Adam Hansen, atualmente presidente da CPA (Associação de Ciclistas Profissionais), e Laurens ten Dam também trocaram o pelotão pelos eventos de Ironman após suas aposentadorias. Andrew Talansky, que foi líder de GC na equipe Garmin e depois na EF Education, também migrou para o triatlo após encerrar sua carreira no ciclismo de estrada em 2017.
Curiosamente, o movimento também acontece no sentido inverso. Taylor Knibb, uma das estrelas do triatlo, se classificou para os Jogos Olímpicos de Paris tanto no triatlo quanto no contrarrelógio do ciclismo. Kristin Armstrong, tricampeã olímpica de contrarrelógio, começou sua carreira no triatlo antes de se focar exclusivamente no ciclismo de estrada.
A Mentalidade de Um Profissional
O que diferencia atletas como Van Avermaet é a mentalidade profissional que carregam para qualquer desafio. Em suas próprias palavras ao Het Nieuwsblad: “Qualquer um que já foi profissional em tempo integral quer se preparar perfeitamente para cada desafio esportivo e não fazer as coisas pela metade”.
Essa abordagem meticulosa fica evidente em sua preparação. Van Avermaet admitiu ter dedicado o último mês antes do mundial a treinos mais focados, com sessões de natação duas vezes por semana. Sobre o ciclismo na bike de triatlo, ele comentou: “Uma vez na bike, posso dar tudo de mim, embora não esteja acostumado a pedalar forte por noventa quilômetros em uma bicicleta de contra-relógio”.
O Futuro é Incerto, Mas Promissor
Quando questionado sobre seus planos para 2026, Van Avermaet demonstrou cautela característica: “Ainda não decidi o que o próximo ano trará. Estou qualificado para o Campeonato Mundial de 2026 em Nice, e é bem provável que eu aproveite essa oportunidade. De qualquer forma, meu objetivo é reduzir gradualmente o lado competitivo e continuar apenas de forma recreativa. A idade também está chegando”.
Apesar das palavras sobre diminuir o ritmo, é difícil imaginar um competidor como Van Avermaet simplesmente abandonando o alto nível. Sua vitória em Marbella prova que ele ainda tem muito a oferecer ao esporte, mesmo que agora seja em uma disciplina diferente daquela que o tornou famoso.
Uma Carreira Repleta de Conquistas
Para entender a magnitude dessa conquista no triatlo, é preciso olhar para trás na carreira de Van Avermaet no ciclismo. O belga conquistou a medalha de ouro olímpica no Rio 2016, venceu o Paris-Roubaix em 2017, e somou vitórias em outras clássicas importantes como o Omloop Het Nieuwsblad.
No entanto, o título mundial na estrada sempre lhe escapou. Ele chegou perto várias vezes, mas nunca conseguiu vestir a cobiçada camisa arco-íris do campeão mundial de ciclismo. Agora, aos 40 anos e em uma modalidade completamente diferente, Van Avermaet finalmente pode se chamar de campeão mundial – mesmo que seja na categoria etária do triatlo.
O Dia Também Teve Outras Estrelas
Enquanto Van Avermaet dominava sua categoria etária, a prova elite masculina também proporcionou grande emoção. O belga Jelle Geens defendeu com sucesso seu título mundial de Ironman 70.3, mas teve que suar muito para isso. Em um sprint dramático, ele venceu o lendário norueguês Kristian Blummenfelt, campeão olímpico de triatlo, por apenas três segundos.
Geens parou o cronômetro em 3h42’52”, com Blummenfelt e seu compatriota norueguês Casper Stornes completando o pódio. A batalha entre esses atletas de elite serviu de inspiração para todos os competidores das categorias etárias, incluindo Van Avermaet, que assistiu aos melhores do mundo antes de sua própria largada.
Lições de Um Campeão
A história de Greg Van Avermaet no triatlo oferece várias lições valiosas para atletas de todos os níveis. Primeiro, que a idade é apenas um número quando você tem determinação e disciplina. Aos 40 anos, ele está conquistando vitórias contra competidores uma década mais jovens.
Segundo, que as habilidades desenvolvidas em um esporte podem ser transferidas para outro com a preparação adequada. A base aeróbica construída ao longo de décadas no ciclismo profissional deu a Van Avermaet uma vantagem significativa no triatlo, mas ele ainda teve que se dedicar completamente aos treinos de natação e corrida.
Terceiro, e talvez mais importante, que os verdadeiros campeões nunca param de competir. Van Avermaet poderia ter se aposentado e simplesmente aproveitado suas conquistas passadas. Em vez disso, ele escolheu o caminho mais difícil: começar do zero em uma nova modalidade e perseguir a excelência novamente.
O Legado Continua
A transição bem-sucedida de Van Avermaet para o triatlo também abre portas para outros ciclistas profissionais que estão considerando o que fazer após a aposentadoria. Ela prova que há vida – e vitórias – além do pelotão, desde que você esteja disposto a fazer o trabalho necessário.
Para os fãs de ciclismo brasileiros, a história de Van Avermaet é particularmente inspiradora. Ela mostra que não importa qual seja seu ponto de partida ou sua idade, sempre há espaço para novos desafios e novas conquistas. O importante é manter acesa a chama da competição e nunca parar de buscar a melhoria.
Com o Mundial de 2026 em Nice já no horizonte, podemos esperar ver Van Avermaet de volta às competições. Afinal, agora ele tem um título para defender. E conhecendo sua história, sabemos que ele não vai facilitar para ninguém. O campeão olímpico e agora campeão mundial de Ironman 70.3 provou que sua sede de vitórias está longe de ser saciada.
A jornada de Greg Van Avermaet no triatlo está apenas começando, mas já é uma das histórias mais inspiradoras do esporte em 2025. Do Rio de Janeiro a Marbella, de campeão olímpico a campeão mundial de triatlo, o belga continua escrevendo capítulos impressionantes em sua carreira. E o melhor de tudo? Parece que ele ainda não terminou.

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