Esloveno termina mais de um minuto atrás porque, aparentemente, estava admirando a paisagem
Ah, que dia glorioso para a Lidl-Trek! Conseguiram sua sexta vitória no Giro d'Italia - sexta mesmo, não é erro de digitação - desta vez com Carlos Verona, que decidiu que aos 32 anos estava na hora de parar de ser "apenas" o cara que carrega garrafinha e virar o protagonista da própria história. E olha que ataque! 44 quilômetros sozinho rumo a Asiago. O homem literalmente disse: "Tchau, pessoal, vou ali ganhar uma corrida e já volto."
O espanhol, que está no WorldTour há 13 temporadas (sim, treze - tempo suficiente para ter visto de tudo nesse esporte), resolveu que era hora de sair do anonimato. Escapou de um grupo de fuga com 11 corredores como quem sai discretamente de uma festa chata, resistiu aos perseguidores numa subida e cruzou a linha como se fosse o dono do pedaço.
Esta é apenas a segunda vitória na carreira de Verona. A primeira foi no Critérium du Dauphiné há três anos - ou seja, o cara não é exatamente um "serial winner", mas quando decide ganhar, ganha com estilo.
"Cheguei ao Giro sabendo que meu papel seria apoiar Pedersen e Ciccone, e estava super feliz sendo o eterno segundo violino", disse Verona, provavelmente ainda sem acreditar que estava dando entrevista como vencedor.
"Mas aí tudo mudou", continuou, depois que Ciccone abandonou a corrida durante a noite por causa de uma lesão. Basicamente, o roteiro mudou no meio da peça e nosso herói teve que improvisar.
"Hoje corri com minha mente e minhas pernas, especialmente por Ciccone, porque sei quantos sacrifícios ele fez", explicou Verona, num momento de pura poesia ciclística que quase nos fez derramar uma lágrima.
"Quando você é gregário, está lá para servir. Quando eles não estão, você vira o patrão." Filosofia pura!
Enquanto isso, no drama da classificação geral...
Primož Roglič (Red Bull-Bora-Hansgrohe) teve um dia para esquecer e decidiu que o 10º lugar era um bom lugar para fazer uma pausa. Perdeu um minuto e meio para os rivais, aparentemente porque achou que a subida final era opcional.
Isaac Del Toro continua de camisa rosa, provavelmente pensando: "Obrigado, Roglič, por facilitar minha vida!"
Como foi que essa loucura toda aconteceu
Imaginem a cena: dia perfeito para fuga, todo mundo querendo entrar no grupo da frente como se fosse fila de lançamento do iPhone. A briga foi tão intensa que os primeiros 70 km foram percorridos a 50 km/h - basicamente velocidade de trânsito urbano, só que em bicicleta e subindo montanha.
Depois de uma hora e meia de "quero, não quero, deixa eu entrar", finalmente 35 corajosos conseguiram formar o grupinho VIP da fuga.
No Monte Grappa - que, pelo nome, deveria servir bebida no topo - a coisa começou a afunilar. Ben Turner e Josh Tarling da Ineos Grenadiers desistiram da brincadeira e resolveram trabalhar para o patrão, como bons funcionários que são.
E então, como num filme de ação, Egan Bernal (Ineos Grenadiers) resolveu atacar. A camisa rosa disse "não vou ficar para trás" e colou nele, junto com Carapaz, formando o que os comentaristas chamaram poeticamente de "grupo embalado pelos ritmos latino-americanos" - porque ciclismo sem drama não é ciclismo.
Lá na frente, Marco Frigo (Israel Premier Tech) estava fazendo cosplay de Forrest Gump, correndo sozinho com 15 segundos de vantagem, até que 10 corredores - incluindo nosso herói Verona - decidiram que não era justo deixar o italiano se divertir sozinho.
O momento mágico
Na subida final para Dori (16,6 km de pura alegria), Verona teve sua epifania: "É agora ou nunca!" Atacou como quem não tem nada a perder - porque realmente não tinha - e abriu um minuto de vantagem.
"Sabia que tinha que atacar de longe porque não sou rápido, na verdade sou bem lento", confessou depois, numa honestidade brutal que respeitamos profundamente.
Enquanto isso, lá atrás, Carapaz tentou apimentar a classificação geral com dois ataques nos últimos 30 km. Del Toro colou nele como chiclete, e Roglič... bem, Roglič decidiu que estava numa excursão turística e ficou para admirar a vista, um minuto atrás.
Verona chegou sozinho em Asiago, cobriu o rosto em descrença (relatable!) e entrou para a história. A Lidl-Trek pode ter perdido Ciccone, mas ganhou uma história épica para contar nos churrascos de fim de ano.
Os números da comédia
Giro d'Italia 2025, etapa 15: Fiume Veneto > Asiago (219km)
- Carlos Verona (Esp) Lidl-Trek - O CARA, em 5:15:41
- Florian Stork (Esp) Tudor Pro Cycling - "Quase", +22s
- Christian Scaroni (Ita) XDS Astana - "Por pouco", +23s
- Romain Bardet (Fra) Picnic PostNL - Veterano respeitável
- Nicolas Prodhomme (Fra) Decathlon AG2R - Top 5 é top 5
- Filippo Zana (Ita) Jayco AlUla - Pelo menos chegou junto
- Gianmarco Garofoli (Ita) Soudal Quick-Step - +26s de experiência
- Filippo Fiorelli (Ita) VF Group - +29s de aprendizado
- Max Poole (GBr) Picnic PostNL - Britânico educado
- Einer Rubio (Col) Movistar - Colombiano no top 10, sempre
Classificação geral após a etapa 15 (ou "Quem ainda tem chances")
- Isaac Del Toro (Mex) UAE Team Emirates-XRG - O chefe, em 55:54:05
- Simon Yates (GBr) Visma-Lease a Bike - "Paciência", +1:20
- Juan Ayuso (Spa) UAE Team Emirates-XRG - Companheiro de equipe leal, +1:26
- Richard Carapaz (Ecu) EF Education-EasyPost - Ex-campeão ainda sonha, +2:07
- Derek Gee (Can) Israel-Premier Tech - Canadense persistente, +2:54
- David Caruso (Ita) Bahrain Victorious - +2:55
- Antonio Tiberi (Ita) Bahrain Victorious - +3:02
- Egan Bernal (Col) Ineos Grenadiers - Já foi melhor, +3:38
- Thymen Arensman (Fra) Ineos Grenadiers - +3:45
- Primož Roglič (Slo) Red Bull-Bora-Hansgrohe - "Opa, como cheguei aqui?", +3:53
E assim, meus amigos, mais um dia épico no circo ambulante que chamamos de Giro d'Italia!