O mundo do ciclismo profissional está prestes a testemunhar uma revolução nutricional sem precedentes. Com a transferência confirmada de Remco Evenepoel para a Red Bull-Bora-Hansgrohe em 2026, o campeão olímpico belga terá acesso a um dos programas de nutrição esportiva mais avançados do pelotão internacional. Sob a orientação de Stephen Smith, chefe de nutrição de performance da equipe alemã, Evenepoel descobrirá protocolos alimentares que prometem transformar completamente sua capacidade competitiva.
A chegada do prodígio belga à formação alemã coincide com uma era de transformação radical nas estratégias nutricionais do ciclismo. Desde os tradicionais pistolets com geleia que Evenepoel consome religiosamente antes dos contrarrelógios até as mais sofisticadas técnicas de periodização de carboidratos e treinamento intestinal, a ciência da alimentação esportiva está redefinindo os limites do desempenho humano sobre duas rodas.
O Ritual Pré-Competição de Evenepoel: Quando a Tradição Encontra a Ciência
Mesmo com todo o arsenal tecnológico à sua disposição na nova equipe, Remco Evenepoel manterá intacto seu ritual alimentar pré-contrarrelógio. O belga revelou em 2023: “Como sempre os mesmos alimentos desde os tempos de júnior: pistolets com geleia, banana, mel, meio litro de Fanta e fatias de filé de frango. Quando consumo essa combinação, raramente fico fora do pódio”.
Os pistolets, tradicionais pãezinhos belgas, representam mais do que simples superstição. Smith, o nutricionista-chefe da Red Bull-Bora-Hansgrohe, reconhece a importância psicológica desses rituais: “Seria imprudente modificar algo que historicamente proporciona resultados tão consistentes ao atleta. A confiança mental gerada por esses hábitos pode ser tão importante quanto os macronutrientes em si”.
A combinação aparentemente caótica de Fanta com filé de frango pode desafiar convenções nutricionais, mas esconde uma lógica científica. O refrigerante fornece carboidratos de rápida absorção e cafeína, enquanto a proteína magra do frango ajuda a estabilizar os níveis glicêmicos, evitando picos e quedas bruscas de energia durante o esforço intenso do contrarrelógio.
A Revolução do Food Coach: Tecnologia a Serviço da Performance
A Red Bull-Bora-Hansgrohe oferecerá a Evenepoel acesso ao revolucionário aplicativo Food Coach, originalmente desenvolvido em 2018 para a Jumbo-Visma (atual Visma-Lease a Bike) em parceria com supermercados Jumbo. Desde o início de 2025, a equipe alemã utiliza essa ferramenta digital que está transformando a forma como os ciclistas profissionais gerenciam sua alimentação diária.
O aplicativo sincroniza automaticamente com plataformas como TrainingPeaks, calculando precisamente as necessidades calóricas baseadas na duração do treino e potência média produzida. “Os ciclistas podem selecionar entre centenas de receitas cujos macronutrientes são ajustados especificamente para cada sessão de treino”, explica Smith.
Essa personalização extrema representa um salto evolutivo em relação aos métodos tradicionais. Asker Jeukendrup, atual Diretor de Estratégia Esportiva da Red Bull-Bora-Hansgrohe e um dos criadores originais do app, revolucionou a nutrição esportiva ao demonstrar que a periodização alimentar pode amplificar significativamente as adaptações fisiológicas ao treinamento.
Periodização Nutricional: A Arte de Sincronizar Combustível e Treino
A periodização nutricional tornou-se o Santo Graal do ciclismo moderno. Smith detalha: “Colocamos o objetivo de cada sessão no centro de tudo. Primeiro identificamos a adaptação fisiológica desejada, depois personalizamos a nutrição antes, durante e após o treino para maximizar esses ganhos”.

Durante o período de base, normalmente entre novembro e janeiro, a equipe implementa protocolos de treino com restrição de carboidratos para atletas selecionados. Essa estratégia, popularizada pela antiga Team Sky sob orientação de James Morton (professor de metabolismo do exercício na Liverpool John Moores University e atual consultor do Manchester United), visa estimular adaptações metabólicas específicas.
As sessões de treino em jejum ou com glicogênio muscular reduzido ativam vias moleculares que aumentam a biogênese mitocondrial – essencialmente criando mais “usinas de energia” celulares. Segundo pesquisa recente liderada por Morton e publicada no UCI Sports Nutrition Project, atletas que mantêm concentrações de glicogênio muscular abaixo de 200-300 mmol/kg após o exercício demonstram adaptações metabólicas superiores.
O Protocolo de Treino com Baixo Carboidrato da Red Bull
A Red Bull-Bora-Hansgrohe desenvolveu protocolos específicos para diferentes tipos de ciclistas. Smith revela: “Para escaladores como Evenepoel, implementamos até duas sessões semanais de treino com carboidrato restrito durante a pré-temporada. Geralmente, os atletas pedalam por duas horas em jejum antes de introduzir carboidratos”.
Existem quatro modelos principais de periodização de carboidratos utilizados pela equipe:
- Modelo em Jejum: Treino realizado antes do café da manhã, maximizando a oxidação de gorduras
- Modelo Duas Vezes ao Dia: Sessão matinal seguida de restrição alimentar e treino vespertino
- Modelo Sleep Low: Treino noturno, restrição de carboidratos pós-exercício, sono e nova sessão matinal
- Modelo Recover Low: Treino normal com restrição de carboidratos apenas na recuperação
A escolha do protocolo depende do perfil do atleta. “Velocistas raramente se beneficiam dessas estratégias”, observa Smith. “Mas para ciclistas de Clássicas e escaladores que enfrentam provas de longa duração, os ganhos podem ser substanciais”.
A Revolução dos 120 Gramas: Treinamento Intestinal Extremo
Conforme a temporada de competições se aproxima, o foco muda drasticamente. O treinamento intestinal torna-se prioridade máxima, com atletas aprendendo a tolerar e absorver quantidades extraordinárias de carboidratos durante o exercício.
“Nosso objetivo é que atletas como Primož Roglič e Florian Lipowitz – e agora Evenepoel – consigam consumir e absorver até 120 gramas de carboidratos por hora durante esforços intensos”, revela Smith. Essa quantidade representa o triplo do que era considerado possível há apenas uma década.
O processo envolve adaptações fisiológicas complexas. A exposição consistente a altas cargas de carboidratos aumenta a expressão de transportadores intestinais específicos – SGLT1 para glicose e GLUT5 para frutose. Esses “portões moleculares” no intestino delgado determinam quanta energia pode ser absorvida e utilizada durante o exercício.
A pesquisa científica demonstra que o treinamento intestinal regular não apenas aumenta a capacidade de absorção, mas também reduz significativamente o desconforto gastrointestinal – náuseas, cólicas e distensão abdominal que historicamente limitavam o consumo de carboidratos durante competições.
MNSTRY: O Parceiro Nutricional de Elite
A parceria da Red Bull-Bora-Hansgrohe com a MNSTRY, fornecedora oficial de produtos nutricionais da equipe, representa outro diferencial competitivo. A empresa desenvolveu formulações específicas combinando glicose e frutose em proporções otimizadas (geralmente 2:1 ou 1:0.8) que maximizam a absorção intestinal ao utilizar diferentes vias de transporte simultaneamente.
Esses produtos são testados rigorosamente no Red Bull Athletic Performance Centre em Salzburgo, Áustria, onde cientistas monitoram em tempo real a absorção de carboidratos, oxidação de substratos e resposta metabólica individual de cada atleta.
Monitoramento Científico: Além do Peso na Balança
A Red Bull-Bora-Hansgrohe utiliza métodos sofisticados para monitorar a composição corporal dos atletas ao longo da temporada. Smith explica: “Utilizamos DEXA scanning para análises detalhadas incluindo densidade mineral óssea, e o método ISAK com calibradores – oito medições precisas que fornecem dados sobre distribuição de gordura corporal”.
Essa abordagem permite ajustes precisos para diferentes momentos da temporada. “Para as Clássicas da Primavera, podemos manter domestiques com 1-2kg extras de massa corporal, incluindo gordura adicional, para enfrentar melhor o frio e os pavés. Antes do Tour de France, esses mesmos atletas reduzem peso para sobreviver às montanhas”.
O exemplo histórico de Thor Hushovd ilustra essa estratégia. O norueguês, trabalhando com o nutricionista Rob Child na Cervélo Test Team, perdeu estrategicamente 3kg antes do Tour de France 2009. Apesar de perder massa muscular, sua relação peso-potência melhorou, permitindo-lhe acumular pontos intermediários nas montanhas e conquistar a camisa verde sobre Mark Cavendish.
Suplementação Estratégica: Separando Ciência de Marketing
Com Evenepoel na equipe, a Red Bull-Bora-Hansgrohe intensificará seus protocolos de validação de suplementos ergogênicos. Smith detalha o processo rigoroso: “Começamos analisando o mecanismo biológico proposto e a literatura científica existente. Procuramos especificamente por estudos randomizados controlados – o padrão ouro da pesquisa científica”.
A equipe tem acesso privilegiado aos laboratórios do Red Bull Athletic Performance Centre, onde podem testar produtos com atletas de elite em condições controladas. “Muitos estudos usam universitários sedentários como sujeitos. Os resultados nem sempre se traduzem para atletas cujos sistemas fisiológicos já operam próximo ao limite humano”, alerta Smith.
O Comitê Olímpico Internacional reconhece apenas cinco substâncias como ergogênicos comprovados: cafeína, creatina, bicarbonato de sódio, beta-alanina e nitrato. A Red Bull-Bora-Hansgrohe foca nesses compostos validados, evitando modismos e produtos sem embasamento científico robusto.
O Impacto da Transferência de Evenepoel na Nutrição do Pelotão
A transferência histórica de Evenepoel, confirmada para 2026 com contrato até pelo menos 2028, representa mais do que uma mudança de camisa. O belga terá acesso a uma equipe de cinco nutricionistas especializados – uma das maiores estruturas do pelotão mundial.
Ralph Denk, CEO da Red Bull-Bora-Hansgrohe, declarou: “Remco representa ambição. Ele não quer apenas pedalar – ele quer moldar o ciclismo”. Essa filosofia se estende à nutrição, onde Evenepoel poderá explorar protocolos personalizados impossíveis em estruturas menores.
A chegada de Sven Vanthourenhout como novo chefe esportivo, substituindo Rolf Aldag, facilita ainda mais a transição. O ex-técnico da seleção belga conhece intimamente as preferências e necessidades nutricionais de Evenepoel, tendo trabalhado com ele nas conquistas dos títulos mundiais e olímpicos.
Proteína: O Pilar Esquecido da Performance
Enquanto carboidratos dominam as discussões sobre nutrição no ciclismo, a proteína desempenha papel crucial na estratégia da Red Bull-Bora-Hansgrohe. Smith revela: “Nossos atletas consomem aproximadamente 2,5 gramas de proteína por quilograma de peso corporal diariamente – significativamente mais que as recomendações para atletas recreacionais de 1,6g/kg”.
Essa ingestão elevada visa múltiplos objetivos: recuperação muscular acelerada, manutenção de massa magra durante períodos de restrição calórica, e suporte ao sistema imunológico constantemente desafiado pelo treinamento intenso.
A distribuição temporal também importa. A equipe implementa o conceito de “protein pacing” – consumo de 20-25g de proteína de alta qualidade a cada 3-4 horas, maximizando a síntese proteica muscular ao longo do dia.
Estratégias Específicas para Grandes Voltas
Com ambições declaradas de conquistar o Tour de France com Evenepoel, a Red Bull-Bora-Hansgrohe desenvolveu protocolos nutricionais específicos para corridas de três semanas.
Durante Grandes Voltas, o consumo calórico diário pode ultrapassar 8.000 calorias em etapas de montanha. O desafio não é apenas fornecer energia suficiente, mas fazê-lo sem causar distress gastrointestinal ou comprometer a qualidade do sono – essencial para recuperação.
A equipe utiliza estratégias como:
- Refeições líquidas de alta densidade calórica entre etapas
- Suplementação enzimática para auxiliar digestão
- Periodização de fibras – redução durante a competição para minimizar volume intestinal
- Hidratação intravenosa quando permitida pelos regulamentos
- Monitoramento contínuo de glicose para otimizar timing de alimentação
Micronutrientes: Os Detalhes que Fazem a Diferença
Além dos macronutrientes, a Red Bull-Bora-Hansgrohe mantém vigilância rigorosa sobre o status de micronutrientes dos atletas. Smith enfatiza a importância da vitamina D durante o inverno europeu: “É praticamente impossível manter níveis adequados apenas através da exposição solar limitada. Suplementamos todos os atletas durante os meses de inverno”.
Outros micronutrientes críticos incluem:
- Ferro: Monitorado mensalmente através de ferritina sérica
- Magnésio: Essential para contração muscular e metabolismo energético
- Zinco: Crucial para função imunológica e recuperação
- Vitaminas do complexo B: Cofatores essenciais no metabolismo energético
- Antioxidantes: Vitaminas C e E em doses controladas para não interferir com adaptações ao treino
O Futuro da Nutrição no Ciclismo: Inteligência Artificial e Personalização
A Red Bull-Bora-Hansgrohe está na vanguarda da aplicação de inteligência artificial na nutrição esportiva. Algoritmos de machine learning analisam padrões de performance, biomarcadores sanguíneos, qualidade do sono e dados de treino para gerar recomendações nutricionais ultra-personalizadas.
“Estamos desenvolvendo modelos preditivos que antecipam necessidades nutricionais com dias de antecedência”, revela Smith. “Por exemplo, o sistema pode identificar padrões que precedem overtraining e ajustar automaticamente a ingestão de carboidratos e proteínas para prevenir o problema”.
Com a chegada de Evenepoel, esses sistemas serão refinados ainda mais. O belga é conhecido por sua abordagem meticulosa e científica ao treinamento, tornando-o o candidato ideal para testar e validar essas inovações.
Lições Para Ciclistas Amadores
Embora as estratégias da Red Bull-Bora-Hansgrohe sejam desenhadas para atletas de elite, ciclistas amadores podem adaptar vários princípios:
- Periodize sua nutrição: Ajuste a ingestão de carboidratos baseando-se na intensidade e duração dos treinos
- Pratique treino intestinal: Gradualmente aumente a ingestão de carboidratos durante pedais longos
- Priorize proteína: Consuma 1.6-2.0g/kg de peso corporal para otimizar recuperação
- Experimente treino em jejum: Uma sessão semanal de baixa intensidade pode melhorar eficiência metabólica
- Monitore composição corporal: Peso na balança conta apenas parte da história
- Hidrate estrategicamente: Não apenas água, mas eletrólitos balanceados
- Respeite rituais pessoais: Como Evenepoel e seus pistolets, encontre o que funciona para você
Para mais informações sobre nutrição no ciclismo e estratégias de treinamento, explore nossos artigos especializados.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Nutrição no Ciclismo Profissional
1. O que são pistolets e por que Remco Evenepoel os consome antes dos contrarrelógios?
Pistolets são pãezinhos tradicionais belgas que Evenepoel consome religiosamente antes de cada contrarrelógio desde os tempos de júnior. Ele os combina com geleia, banana, mel, meio litro de Fanta e filé de frango. Essa combinação específica fornece carboidratos de rápida e lenta absorção, além de proteína para estabilizar os níveis glicêmicos. O aspecto psicológico é igualmente importante – Evenepoel afirma que raramente fica fora do pódio quando segue esse ritual, criando uma associação mental positiva que pode influenciar a performance.
2. Como funciona o aplicativo Food Coach utilizado pela Red Bull-Bora-Hansgrohe?
O Food Coach é um aplicativo desenvolvido originalmente para a Jumbo-Visma que sincroniza com plataformas de treino como TrainingPeaks. Ele calcula automaticamente as necessidades nutricionais baseadas na duração e intensidade de cada sessão, oferecendo centenas de receitas personalizadas. O sistema ajusta os macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) de acordo com o objetivo específico do treino – seja construção de base aeróbica, desenvolvimento de potência ou recuperação. Os ciclistas podem selecionar refeições que se adequam às suas preferências pessoais enquanto atendem às demandas nutricionais calculadas.
3. O que é periodização nutricional e como ela melhora o desempenho?
Periodização nutricional é a estratégia de ajustar a ingestão alimentar de acordo com as diferentes fases e objetivos do treinamento. Durante o período de base (novembro-janeiro), atletas podem realizar treinos com restrição de carboidratos para estimular adaptações metabólicas como aumento da biogênese mitocondrial e melhora na oxidação de gorduras. Conforme a temporada de competições se aproxima, o foco muda para maximizar a ingestão e absorção de carboidratos. Essa abordagem otimiza as adaptações fisiológicas específicas de cada fase, resultando em melhor desempenho geral.
4. É realmente possível consumir 120 gramas de carboidratos por hora durante o exercício?
Sim, através do treinamento intestinal progressivo. Tradicionalmente, acreditava-se que 60g/hora era o limite máximo, mas pesquisas recentes mostram que combinando glicose e frutose (que usam transportadores intestinais diferentes – SGLT1 e GLUT5), atletas treinados podem absorver até 120g/hora. O processo requer semanas ou meses de adaptação gradual, durante os quais o intestino aumenta a expressão desses transportadores e o estômago melhora o esvaziamento gástrico. A Red Bull-Bora-Hansgrohe implementa protocolos específicos para desenvolver essa capacidade em seus atletas.
5. Por que ciclistas profissionais fazem treino em jejum se precisam de energia para pedalar?
O treino em jejum ou com baixo carboidrato é uma ferramenta específica usada estrategicamente, não uma prática diária. Realizado principalmente durante o período de base, visa ativar vias moleculares (como a via AMPK) que promovem adaptações benéficas: aumento do número de mitocôndrias, melhora na capacidade de oxidar gordura e maior eficiência metabólica. A Red Bull-Bora-Hansgrohe limita essas sessões a no máximo duas por semana, sempre em intensidade baixa a moderada, e apenas para atletas específicos como escaladores. Sprinters raramente se beneficiam dessa estratégia.
6. Qual a diferença entre os modelos de treino com baixo carboidrato utilizados pela equipe?
A Red Bull-Bora-Hansgrohe utiliza quatro modelos principais: O modelo em jejum envolve treinar antes do café da manhã; o modelo duas vezes ao dia combina treino matinal, restrição alimentar e sessão vespertina; o modelo “sleep low” consiste em treinar à noite, restringir carboidratos, dormir e treinar novamente pela manhã; e o modelo “recover low” permite treino normal mas restringe carboidratos apenas na recuperação. Cada modelo tem vantagens específicas e a escolha depende do perfil do atleta, fase da temporada e objetivos de adaptação desejados.
7. Como a equipe monitora a composição corporal dos atletas ao longo da temporada?
A Red Bull-Bora-Hansgrohe utiliza dois métodos principais: DEXA scanning, que fornece análise detalhada incluindo densidade mineral óssea e distribuição de gordura, e o método ISAK com calibradores, que envolve oito medições precisas (seis no tronco, duas nas pernas) para calcular percentual de gordura corporal. O monitoramento é feito regularmente para garantir que os atletas mantenham a composição ideal para cada fase da temporada – por exemplo, domestiques podem manter 1-2kg extras para as Clássicas da Primavera, reduzindo peso antes das corridas de montanha.
8. Quanto de proteína os ciclistas profissionais consomem diariamente?
Os atletas da Red Bull-Bora-Hansgrohe consomem aproximadamente 2,5 gramas de proteína por quilograma de peso corporal diariamente – significativamente mais que as 1,6g/kg recomendadas para atletas amadores. Para um ciclista de 70kg, isso significa cerca de 175g de proteína por dia. A distribuição é crucial: a equipe implementa “protein pacing”, consumindo 20-25g de proteína de alta qualidade a cada 3-4 horas para maximizar a síntese proteica muscular e otimizar a recuperação.
9. Como validar se um suplemento realmente funciona para ciclismo?
A Red Bull-Bora-Hansgrohe segue um protocolo rigoroso: primeiro, analisam o mecanismo biológico proposto e procuram estudos randomizados controlados (padrão ouro da pesquisa). Depois, consideram se os estudos foram feitos com atletas de elite ou apenas universitários sedentários – resultados podem diferir drasticamente. Por fim, testam no Red Bull Athletic Performance Centre com seus próprios atletas. O Comitê Olímpico Internacional reconhece apenas cinco substâncias como ergogênicos comprovados: cafeína, creatina, bicarbonato de sódio, beta-alanina e nitrato. A equipe foca nesses compostos validados.
10. Qual o impacto da transferência de Evenepoel para a estratégia nutricional da Red Bull-Bora-Hansgrohe?
A chegada de Evenepoel em 2026 representa uma oportunidade única para a equipe refinar ainda mais seus protocolos nutricionais. Com cinco nutricionistas especializados – uma das maiores estruturas do pelotão – a equipe poderá desenvolver estratégias ultra-personalizadas para o belga. A presença de Sven Vanthourenhout, ex-técnico da seleção belga que conhece intimamente as preferências nutricionais de Evenepoel, facilitará a transição. A equipe planeja usar Evenepoel como “laboratório” para testar inovações em inteligência artificial aplicada à nutrição, desenvolvendo modelos preditivos que antecipam necessidades nutricionais com dias de antecedência.
11. Como a nutrição muda durante uma Grande Volta de três semanas?
Durante Grandes Voltas como o Tour de France, o consumo calórico pode ultrapassar 8.000 calorias em etapas de montanha. A Red Bull-Bora-Hansgrohe implementa estratégias específicas: refeições líquidas de alta densidade calórica entre etapas para facilitar digestão; redução de fibras para minimizar volume intestinal; suplementação enzimática para auxiliar processamento de grandes volumes de comida; hidratação intravenosa quando permitida; e monitoramento contínuo de glicose sanguínea. O desafio não é apenas fornecer energia suficiente, mas fazê-lo sem comprometer qualidade do sono ou causar distress gastrointestinal que prejudicaria a performance.
12. Ciclistas amadores podem aplicar as estratégias nutricionais dos profissionais?
Sim, mas com adaptações importantes. Amadores podem periodizar nutrição ajustando carboidratos conforme intensidade do treino; praticar treino intestinal aumentando gradualmente consumo durante pedais longos; consumir 1.6-2.0g de proteína por kg de peso corporal; experimentar uma sessão semanal de treino em jejum de baixa intensidade; monitorar composição corporal além do peso; e manter hidratação adequada com eletrólitos. Porém, protocolos extremos como 120g de carboidratos por hora ou treinos múltiplos com restrição severa devem ser evitados sem supervisão profissional. O importante é adaptar princípios gerais à realidade individual.
13. Qual o papel da inteligência artificial no futuro da nutrição esportiva?
A Red Bull-Bora-Hansgrohe está desenvolvendo algoritmos de machine learning que analisam padrões de performance, biomarcadores sanguíneos, qualidade do sono e dados de treino para gerar recomendações nutricionais ultra-personalizadas. O sistema pode identificar padrões que precedem overtraining e ajustar automaticamente a ingestão nutricional para prevenir problemas. Com a chegada de Evenepoel, conhecido por sua abordagem científica meticulosa, esses sistemas serão refinados para criar modelos preditivos que antecipam necessidades nutricionais com dias de antecedência, revolucionando a forma como atletas se alimentam durante treinos e competições.

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