A capital britânica está vivenciando uma verdadeira transformação na forma como seus cidadãos se deslocam pela cidade. Os dados mais recentes revelam um crescimento de 12% no ciclismo no centro de Londres desde 2023, com números ainda mais impressionantes na região da City, o distrito financeiro, que registrou um salto superior a 50% em apenas dois anos.
O que chama atenção nessa revolução da mobilidade urbana é o protagonismo das e-bikes sem estação (dockless), aquelas bicicletas elétricas compartilhadas que podem ser retiradas e devolvidas em qualquer lugar através de aplicativos de celular. Esse modelo de compartilhamento quadruplicou seu uso desde 2022, consolidando-se como peça fundamental no quebra-cabeça do transporte londrino.
O Boom das E-bikes Compartilhadas
Empresas como Lime e Forest estão liderando essa mudança de paradigma. As estatísticas são eloquentes: apenas em 2024, foram realizadas 16 milhões de viagens em e-bikes da Lime durante os horários de pico em Londres, representando um aumento de 85% em relação ao ano anterior.
Atualmente, uma em cada seis bicicletas circulando pelas ruas da City de Londres pertence aos sistemas de compartilhamento sem estação. Essa penetração massiva demonstra como a tecnologia e a conveniência transformaram os hábitos de deslocamento dos londrinos.
“As e-bikes representam agora um terço das viagens essenciais de primeira e última milha que conectam ao transporte público, desempenhando papel fundamental para alcançar as metas de transporte verde e ativo do prefeito”, destacou porta-voz da Lime em comunicado oficial.
Infraestrutura em Expansão: A Chave do Sucesso
O crescimento explosivo não aconteceu por acaso. Londres investiu pesadamente na criação de novas ciclovias e rotas seguras. Somente em 2023/24, a Transport for London (TfL) lançou 20 novas rotas de Cycleways, conectando mais 600 mil londrinos à rede ciclística da cidade.
O presidente do Comitê de Planejamento e Transporte da City of London Corporation, Shravan Joshi, comemorou os resultados: “Atingimos três metas-chave com seis anos de antecedência. Desde 2017, o ciclismo aumentou 70% — a meta era 50% até 2030. No mesmo período, o tráfico de veículos motorizados reduziu 34% — meta de 25% até 2030”.
Impactos Ambientais Mensuráveis
A mudança modal do carro para a bicicleta trouxe benefícios concretos para a qualidade do ar. O número de locais que ultrapassam os limites de dióxido de nitrogênio caiu drasticamente: de 15 pontos em 2019 para apenas 2 em 2024 na região da City.
Essa melhoria está diretamente relacionada à redução de 5% no tráfico de veículos motorizados desde 2022 e às políticas ambientais implementadas pela cidade, como a Zona de Emissões Ultra Baixas (ULEZ), que cobra taxas de veículos mais poluentes.
Para contextualizar a transformação: em 1999, circulavam mais de três vezes o número atual de veículos motorizados nas ruas da City, enquanto havia menos de um sexto das bicicletas que trafegam hoje.
Desafios da Popularização
O sucesso das e-bikes sem estação não veio sem desafios. A proliferação de bicicletas mal estacionadas nas calçadas tornou-se um problema significativo, especialmente para cadeirantes, deficientes visuais e pessoas com mobilidade reduzida.
Em resposta às reclamações crescentes, a City of London Corporation implementou em fevereiro de 2025 uma operação de fiscalização rigorosa, apreendendo mais de 100 e-bikes que obstruíam passagens ou representavam perigo imediato. As empresas foram obrigadas a pagar até £235 por bicicleta para recuperá-las.
Como contrapartida, a Lime anunciou investimento de £1 milhão em um Fundo de Infraestrutura de Estacionamento para criar mais vagas dedicadas, além de contratar mais de 250 pessoas para organizar e remover bicicletas mal estacionadas. Foram criadas 300 novas vagas de estacionamento exclusivas para bikes compartilhadas no distrito financeiro.
O Futuro Regulatório
O governo britânico deu um passo importante com o projeto de lei English Devolution Bill, apresentado em dezembro de 2024. Se aprovada, a legislação dará à Transport for London poderes regulatórios para controlar esquemas de micromobilidade compartilhada, incluindo fiscalização de estacionamento e tamanho das frotas.
Essa mudança promete unificar as regras que hoje variam entre os 32 distritos londrinos, criando um framework consistente para toda a cidade. A expectativa é que a nova legislação entre em vigor no final de 2026.
Comparação com Sistemas Tradicionais
O sistema tradicional de bicicletas com estações fixas da TfL, conhecido como Santander Cycles, conta com cerca de 12 mil bicicletas, das quais aproximadamente 2 mil são elétricas. Apesar de bem estabelecido desde 2010, o sistema enfrenta limitações de expansão devido ao alto custo de instalação de docas (cerca de £200 mil por local).
As e-bikes sem estação, por outro lado, eliminam esse obstáculo de infraestrutura, permitindo crescimento mais ágil e flexível. Atualmente, estima-se que 40 mil e-bikes de diversos operadores circulem pela capital britânica.
Tendência Global e Impacto no Brasil
O caso de Londres serve de referência para cidades ao redor do mundo que buscam soluções de mobilidade sustentável. No Brasil, o mercado de e-bikes também está em expansão, com a produção de bicicletas elétricas crescendo 46,8% em 2024 segundo dados da Abraciclo, embora ainda representem apenas 4,9% do total fabricado.
Cidades brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro começam a experimentar com sistemas de compartilhamento similares, enfrentando desafios parecidos de regulamentação e infraestrutura adequada.
Cargo Bikes: Outra Fronteira em Expansão
Paralelamente ao boom das e-bikes de passageiros, Londres viu o uso de cargo bikes dobrar entre 2022 e 2024. Essas bicicletas de carga estão se tornando alternativa importante para entregas de última milha, substituindo vans a diesel que são agora a maior fonte de poluição do ar no centro da cidade.
Campanhas da organização Clean Cities pedem novos incentivos para pequenos negócios e residentes adquirirem cargo bikes, reconhecendo seu potencial para transformar a logística urbana.
Um Modelo em Evolução
A experiência londrina demonstra que a transição para uma mobilidade mais sustentável é viável, mas requer investimento contínuo em infraestrutura, regulamentação inteligente e cooperação entre setor público e privado.
Os números impressionantes de crescimento do ciclismo — especialmente através das e-bikes compartilhadas — provam que quando há opções convenientes, acessíveis e seguras, as pessoas abraçam alternativas ao carro individual. O desafio agora é equilibrar esse crescimento com a necessidade de manter as calçadas acessíveis para todos.
Como observou o especialista em transportes Christian Wolmar: “Pode ter sido um pouco caótico, mas talvez seja assim que as coisas funcionam no Reino Unido, e talvez seja disso que se trata o urbanismo. Coisas ousadas são testadas pelas pessoas até seus limites”.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quanto cresceu o uso de bicicletas em Londres recentemente?
O ciclismo no centro de Londres cresceu 12% desde 2023, enquanto na City (distrito financeiro) o aumento foi ainda mais expressivo, superando 50% em dois anos. Desde 2017, o crescimento total na City foi de 70%.
2. O que são e-bikes sem estação (dockless)?
São bicicletas elétricas de compartilhamento que podem ser retiradas e devolvidas em qualquer local permitido, sem necessidade de estações fixas. O usuário localiza, desbloqueia e paga pelo serviço através de aplicativo no smartphone. As principais empresas em Londres são Lime e Forest.
3. Quantas viagens são feitas em e-bikes compartilhadas em Londres?
Em 2024, apenas a Lime registrou 16 milhões de viagens durante horários de pico em Londres, um aumento de 85% em relação ao ano anterior. Estima-se que cerca de 40 mil e-bikes de diversos operadores circulem pela capital britânica.
4. Qual a proporção de e-bikes sem estação nas ruas de Londres?
Atualmente, uma em cada seis bicicletas circulando pelas ruas da City de Londres pertence aos sistemas Lime e Forest. O uso desses sistemas quadruplicou desde 2022.
5. Como o aumento do ciclismo impactou a qualidade do ar em Londres?
Houve melhoria significativa: o número de locais que ultrapassam os limites de dióxido de nitrogênio caiu de 15 em 2019 para apenas 2 em 2024 na região da City. Isso está relacionado à redução de 5% no tráfico de veículos motorizados desde 2022.
6. Quais são os principais problemas com as e-bikes sem estação?
O maior desafio é o estacionamento inadequado. Bicicletas mal estacionadas nas calçadas criam obstáculos para pedestres, especialmente pessoas com deficiência visual, cadeirantes e quem usa carrinhos de bebê. Em fevereiro de 2025, mais de 100 bikes foram apreendidas por obstrução.
7. O que está sendo feito para resolver o problema do estacionamento?
Múltiplas ações estão em andamento: a Lime investiu £1 milhão em infraestrutura de estacionamento, foram criadas 300 novas vagas dedicadas na City, as empresas podem ser multadas em até £235 por bike mal estacionada, e mais de 250 funcionários foram contratados para organizar as bicicletas.
8. Existe legislação específica para regular as e-bikes compartilhadas?
Atualmente não, mas está em tramitação. O projeto English Devolution Bill, apresentado em dezembro de 2024, dará à Transport for London poderes para regular esquemas de micromobilidade compartilhada em toda a cidade. A expectativa é que entre em vigor no final de 2026.
9. Como Londres compara com outras cidades europeias no ciclismo?
O Reino Unido está na 22ª posição entre 28 países europeus em “participação modal do ciclismo” com apenas 2%, enquanto a Holanda lidera com 27%. Apesar do crescimento recente em Londres, ainda há muito espaço para expansão comparado aos líderes europeus.
10. Qual o custo para usar e-bikes sem estação em Londres?
Os sistemas dockless geralmente custam mais que ônibus ou o passe diário das bicicletas tradicionais da TfL. O preço varia conforme a duração da viagem, mas a conveniência e a assistência elétrica justificam o custo adicional para muitos usuários.
11. As e-bikes compartilhadas são seguras?
A Lime afirma que mais de 99,99% das viagens em Londres terminam sem incidentes reportados. As bikes passam por inspeções regulares e manutenção preventiva. Qualquer bicicleta com problema reportado (como freios defeituosos) é imediatamente retirada de serviço.
12. Como está o mercado de e-bikes no Brasil?
O mercado brasileiro de e-bikes está em crescimento acelerado. Segundo a Abraciclo, a produção de bicicletas elétricas cresceu 46,8% em 2024 comparado ao ano anterior, embora ainda represente apenas 4,9% do total de bicicletas fabricadas no país.
13. Qual a velocidade máxima das e-bikes Lime?
As e-bikes Lime são limitadas a uma velocidade máxima de 14,8 mph (aproximadamente 24 km/h), velocidade facilmente alcançável em bicicletas convencionais por ciclistas experientes. A limitação visa garantir a segurança tanto dos usuários quanto dos pedestres.
14. O que são cargo bikes e como estão sendo usadas em Londres?
Cargo bikes são bicicletas projetadas para transportar carga, cada vez mais usadas para entregas comerciais. Em Londres, seu uso dobrou entre 2022 e 2024, oferecendo alternativa sustentável às vans a diesel para entregas de última milha no centro da cidade.
15. Quais políticas ambientais de Londres contribuíram para o aumento do ciclismo?
As principais políticas incluem: a taxa de congestionamento (desde 2003), a Zona de Emissões Ultra Baixas (ULEZ) que cobra de veículos poluentes, investimento massivo em ciclovias (20 novas rotas em 2023/24) e incentivo aos sistemas de compartilhamento de bicicletas.

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