A temporada de 2025 marcou o ressurgimento da Visma-Lease a Bike no cenário mundial do ciclismo profissional. Após um ano difícil em 2024, a equipe holandesa conseguiu reconquistar sua posição de destaque ao vencer duas das três Grand Tours – Giro d’Italia com Simon Yates e Vuelta a España com Jonas Vingegaard. Agora, com a janela de transferências encerrada, surge uma questão crucial: a estratégia de recrutamento aparentemente modesta para 2026 será suficiente para manter a equipe competitiva diante da supremacia avassaladora da UAE Team Emirates?
A Recuperação Espetacular de 2025
Depois de conquistar todas as três Grand Tours em 2023, incluindo um histórico pódio triplo na Vuelta, a temporada de 2024 foi decepcionante para a Visma. Com apenas um pódio em Grand Tour – o segundo lugar de Jonas Vingegaard no Tour de France – a equipe viu seu número de vitórias despencar de 69 em 2023 para apenas 32 em 2024.
O ano de 2025, entretanto, trouxe uma reviravolta significativa. A equipe recuperou parte de sua força competitiva, alcançando 40 vitórias ao longo da temporada. Além dos triunfos de Yates no Giro e Vingegaard na Vuelta, destacaram-se as performances impressionantes de Wout van Aert, que venceu etapas memoráveis nas strade bianche da Toscana no Giro e nos pavés de Montmartre no Tour de France, apenas sete meses após seu grave acidente na Vuelta de 2024.
Outro nome que brilhou foi o jovem britânico Matthew Brennan, que conquistou impressionantes 11 vitórias em sua primeira temporada como profissional, igualando o número do velocista holandês Olav Kooij. Matteo Jorgenson também manteve sua versatilidade, repetindo o título da Paris-Nice.
Perdas Significativas no Plantel
Apesar da recuperação em 2025, a Visma-Lease a Bike enfrentará 2026 com um plantel consideravelmente reduzido. As saídas são numerosas e, em alguns casos, dolorosas para a estrutura da equipe.
Olav Kooij, com apenas 24 anos, deixa a equipe após uma temporada excepcional em que conquistou vitórias no Giro d’Italia, Tirreno-Adriatico, Renewi Tour e Tour da Polônia. Suas 11 vitórias representam mais de um quarto do total da equipe em 2025. O velocista neerlandês assinou com a reformulada Decathlon AG2R La Mondiale por três temporadas, tornando-se o sprinter mais bem pago do mundo, com salário de três milhões de euros anuais.
A saída de Dylan van Baarle, campeão da Paris-Roubaix, para a Soudal-QuickStep remove um dos principais trunfos da equipe nas Clássicas de Primavera. O experiente corredor belga era peça fundamental na estratégia para as provas de paralelepípedos. Junto com ele, Tiesj Benoot também deixa a equipe, enfraquecendo ainda mais o arsenal para as clássicas pavimentadas.
Outras saídas incluem Cian Uijtdebroeks, que rescindiu seu contrato antecipadamente para assinar com a Movistar, além dos gregários Attila Valter (rumo ao Bahrain Victorious) e Tosh van der Sande (aposentadoria). O britânico Dan McLay e Thomas Gloag completam a lista de saídas.
Contratações Estratégicas e Desenvolvimento Interno
Em contrapartida às numerosas saídas, a Visma adotou uma abordagem mais cautelosa no mercado de transferências, focando em contratações pontuais e na promoção de talentos de sua equipe de desenvolvimento.
Reforços Experientes para as Clássicas
Owain Doull, aos 32 anos, chega da EF Education-EasyPost para reforçar o time nas clássicas como gregário de luxo. O galês, com passado promissor nas corridas belgas de um dia, agora assume papel de protetor de corredores como Van Aert e Jorgenson.
Timo Kielich, ex-Alpecin-Deceunink, traz experiência do ciclocross e mountain bike. Apesar de estar correndo em estrada profissionalmente há apenas dois anos, já demonstrou potencial em pequenas clássicas e deve atuar em fugas.
Filippo Fiorelli, veterano italiano vindo da VF Group-Bardiani, fará sua estreia no WorldTour aos 30 anos. Conhecido por sua habilidade de escalar e por raramente se envolver em quedas, ele será o “último homem” de Brennan e Van Aert nas etapas acidentadas.
Bruno Armirail, três vezes campeão francês de contrarrelógio, é talvez a contratação mais intrigante. O corredor da Decathlon AG2R La Mondiale é conhecido por suas performances consistentes em CRs e por aparecer em fugas decisivas em provas como o Itzulia Basque Country e Critérium du Dauphiné. Sua versatilidade será valiosa tanto nas etapas contra o relógio quanto nas corridas por etapas acidentadas.
Jovens Talentos em Ascensão
A equipe também promoveu talentos de sua estrutura de desenvolvimento. Mattio Pietro e Tim Rex, ambos com 21 anos, sobem da equipe sub-23. Pietro já demonstrou grande potencial nas corridas de um dia, tendo ficado entre os cinco primeiros na Paris-Roubaix Espoirs de 2025.
Davide Piganzoli, que já tem duas temporadas como profissional pelo Team Polti VisitMalta, chega aos 23 anos com resultados promissores no Giro d’Italia e deve se desenvolver como corredor de classificação geral, possivelmente apoiando Vingegaard ou Yates.
O alemão Anton Schiffer, aos 25 anos, é a carta misteriosa do baralho. Vindo do triatlo, começou a correr profissionalmente em estrada apenas em 2022, mas já conquistou uma etapa de montanha no Sibu Tour em 2025. Sua rápida evolução o torna uma aposta interessante para o futuro.
Vale destacar também a adição de Gaëtan Pons, diretor esportivo de 32 anos, que trabalhava com a Leopard ProCycling e Unibet Rose Rockets. Sua contratação segue a bem-sucedida chegada de Jesper Mørkøv à comissão técnica em 2024, cujo impacto foi imediato na Vuelta a España e no desenvolvimento de Matthew Brennan.
O Peso dos Veteranos em 2026
A realidade para a Visma-Lease a Bike em 2026 é que o sucesso dependerá principalmente dos corredores já consolidados no elenco. Jonas Vingegaard, renovado após sua vitória na Vuelta, retorna com motivação para enfrentar novamente Tadej Pogačar no Tour de France. O esloveno da UAE Team Emirates dominou 2025 com impressionantes 97 vitórias, estabelecendo um novo recorde.
Simon Yates, após sete anos sem vencer uma corrida de três semanas, voltou ao mapa das Grand Tours com autoridade. Sua vitória no Giro provou que, aos 33 anos, ainda tem muito a oferecer.
Wout van Aert continua sendo a arma versátil da equipe. Seus quartos lugares na Volta de Flandres e Paris-Roubaix de 2025 alimentam esperanças de que finalmente conquiste seu segundo Monumento em 2026. Mesmo com o desastre tático na Dwars door Vlaanderen, onde três corredores da Visma foram superados por Neilson Powless da EF Education-EasyPost, Van Aert demonstrou que, em um bom dia, permanece entre os melhores do pelotão.
Matteo Jorgenson mantém sua invejável versatilidade, sendo igualmente competente em provas de classificação geral e nas clássicas. Já Sepp Kuss, o escalador do Colorado, certamente ainda tem performances memoráveis a oferecer nas altas montanhas.
A progressão de Ben Tulett também não pode ser ignorada. O britânico teve uma atuação muito promissora na Vuelta a España como gregário de Vingegaard, mostrando que está pronto para assumir responsabilidades maiores.
Estratégia de Longo Prazo
A Visma-Lease a Bike ainda tem espaço para duas contratações antes de atingir o limite de 30 corredores. No entanto, a filosofia para 2026 fica clara: consolidação em vez de revolução. A equipe aposta que seu elenco profundo e bem estruturado pode absorver as perdas e continuar competitivo.
Os novos contratados, com a possível exceção de Armirail nos contrarrelógios e em algumas fugas, provavelmente desempenharão papéis de apoio na primeira metade da temporada. A verdadeira avaliação do sucesso dessas contratações só será possível ao final de 2026 e, principalmente, em 2027 e além.
É uma abordagem pragmática que reconhece a realidade do ciclismo moderno: com a UAE Team Emirates operando em outro patamar financeiro e esportivo, a Visma precisa ser inteligente e paciente. A aposta é que a combinação de estrelas estabelecidas, uma estrutura técnica sólida e o desenvolvimento gradual de jovens talentos possa manter a equipe entre as melhores do WorldTour.
O investimento em tecnologia também continua sendo um diferencial. A parceria com a Visma oferece à equipe ferramentas avançadas de análise de dados, incluindo o Control Room que fornece insights em tempo real durante as corridas, permitindo decisões táticas mais ágeis.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quais foram as principais saídas da Visma-Lease a Bike para 2026?
As saídas mais significativas incluem o velocista Olav Kooij (Decathlon AG2R La Mondiale), o campeão da Paris-Roubaix Dylan van Baarle (Soudal-QuickStep), Tiesj Benoot (Decathlon), Cian Uijtdebroeks (Movistar), Attila Valter (Bahrain Victorious), além de Dan McLay (aposentadoria), Thomas Gloag (Q36.5) e Tosh van der Sande (aposentadoria).
2. Quem são os principais reforços da equipe para 2026?
Os principais reforços são Bruno Armirail (Decathlon AG2R), Owain Doull (EF Education-EasyPost), Timo Kielich (Alpecin-Deceunink), Filippo Fiorelli (VF Group-Bardiani), além dos jovens promovidos da equipe de desenvolvimento: Mattio Pietro, Tim Rex, e dos contratados Davide Piganzoli e Anton Schiffer.
3. Por que Olav Kooij deixou a Visma-Lease a Bike?
Kooij assinou com a Decathlon AG2R La Mondiale por três temporadas, recebendo três milhões de euros por ano, tornando-se o velocista mais bem pago do mundo. A oferta financeira atraente e a oportunidade de ser o líder absoluto do sprint na equipe francesa foram decisivas.
4. Como foi a temporada 2025 da Visma-Lease a Bike?
Foi uma temporada de recuperação após o difícil ano de 2024. A equipe conquistou 40 vitórias, incluindo duas Grand Tours: Simon Yates venceu o Giro d’Italia e Jonas Vingegaard triunfou na Vuelta a España. Wout van Aert e Matthew Brennan também tiveram performances destacadas com 11 vitórias cada.
5. Quem são os líderes da Visma-Lease a Bike para 2026?
Os principais líderes são Jonas Vingegaard (Grand Tours), Simon Yates (Grand Tours e corridas por etapas), Wout van Aert (Clássicas e etapas de sprint), Matteo Jorgenson (corredor versátil para GC e clássicas), e Matthew Brennan (velocista promissor).
6. A equipe ainda tem vagas disponíveis no plantel de 2026?
Sim, a Visma-Lease a Bike ainda pode contratar dois corredores antes de atingir o limite máximo de 30 atletas no elenco WorldTour.
7. Qual é a estratégia da equipe para as Clássicas de 2026?
Apesar das saídas de van Baarle e Benoot, a equipe continuará apostando em Wout van Aert como principal líder, apoiado por Matteo Jorgenson e pelos novos reforços Owain Doull, Timo Kielich e Filippo Fiorelli. A expectativa é que Van Aert finalmente conquiste seu segundo Monumento.
8. Como a Visma pode competir com a dominância da UAE Team Emirates?
A estratégia é focar em um elenco profundo e bem estruturado, desenvolvimento de jovens talentos, uso avançado de tecnologia e análise de dados, e maximizar o potencial dos corredores estabelecidos. Em vez de competir financeiramente, a Visma busca eficiência tática e operacional.
9. Quem é Matthew Brennan e por que ele é importante para a equipe?
Matthew Brennan é um jovem velocista britânico que teve uma primeira temporada profissional espetacular em 2025, conquistando 11 vitórias. Ele representa o futuro do sprint da equipe e tem potencial para se tornar um dos principais velocistas do pelotão nos próximos anos.
10. Qual é o papel da tecnologia na Visma-Lease a Bike?
A parceria com a Visma fornece à equipe tecnologia avançada de análise de dados, incluindo o Control Room que integra transmissão ao vivo, previsões meteorológicas e rádio de corrida, permitindo decisões táticas em tempo real. A equipe também utiliza modelos de predição nutricional baseados em aprendizado de máquina para otimizar a alimentação dos atletas.
11. Jonas Vingegaard está em condições de voltar a vencer o Tour de France?
Sua vitória na Vuelta a España de 2025 demonstrou que ele se recuperou completamente do grave acidente de 2024 e voltou a ter confiança. No entanto, enfrentará a difícil tarefa de superar Tadej Pogačar, que dominou o ciclismo em 2025 com 97 vitórias e mantém-se como o grande favorito para o Tour de France de 2026.
12. Como será avaliado o sucesso das contratações para 2026?
A maioria dos novos contratados provavelmente desempenhará papéis de apoio na primeira metade da temporada. A verdadeira avaliação só será possível ao final de 2026 e principalmente em 2027, quando esses corredores estiverem completamente integrados ao sistema da equipe e tiverem tido tempo para se desenvolver.

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