Quando pensamos nas últimas aprovações da UCI, raramente imaginamos uma bicicleta de titânio convencional roubando os holofotes. Mas foi exatamente isso que aconteceu com as magníficas Mosaic XT-1 de Ben Frederick, que se tornaram as mais recentes adições à lista de bikes homologadas pela União Ciclística Internacional.
O Retorno Triunfal do Titânio ao Ciclocross Profissional
Em um cenário dominado por quadros de carbono aerodinâmicos, a escolha de Ben Frederick por uma bike de titânio soldada artesanalmente causa admiração. A Mosaic XT-1, fabricada em Boulder, Colorado, representa uma declaração de amor aos materiais nobres e à construção tradicional no mundo do ciclismo de alta performance.

Aprovadas pela UCI em 21 de novembro de 2024, as duas bicicletas gêmeas de Frederick estrearam na primeira etapa da Copa do Mundo de Ciclocross 2025-2026 em Tábor, República Tcheca. E não foi apenas uma participação simbólica – o ciclista americano de 36 anos conseguiu terminar na volta líder, um feito notável considerando o nível dos competidores.
A História por Trás da Mosaic XT-1: Quando o Legado Encontra a Performance
A Mosaic Cycles é uma manufatura artesanal de Boulder, comandada por Aaron Barcheck, que se especializou em criar algumas das melhores bicicletas de titânio do mercado. Curiosamente, o modelo XT-1 nem sequer está no catálogo oficial da marca – a série X foi tecnicamente substituída pela série G quando o gravel começou a ganhar mais popularidade que o ciclocross.

Mas aqui está a beleza de trabalhar com uma fabricante custom: cada quadro é feito sob encomenda, do zero, incluindo geometria específica para o ciclista, configuração personalizada e acabamento exclusivo. Como a Mosaic afirma em seu site, “acreditamos em fazer bikes que são propositalmente e individualmente adaptadas para serem o ajuste perfeito para suas jornadas únicas”.
Pinturas Nebula: Arte Sobre Duas Rodas
Se as bikes de Frederick já chamavam atenção pela escolha do material, o trabalho de pintura customizada as transformou em verdadeiras obras de arte. Após a temporada 2024, a Mosaic desmontou completamente os dois quadros e os repintou em sua oficina de pintura própria, a Spectrum Paint & Powder Works.

O resultado? Duas bicicletas que são imagens espelhadas uma da outra, pintadas com a edição especial da Artist Series Nebula da Mosaic. Onde uma bike apresenta fundo branco com logos coloridos, a outra exibe as cores vibrantes da Nebula (azul, roxo e laranja) com logos brancos. O design em blocos de cores foi criado especificamente para combinar com o uniforme de corrida personalizado de Frederick.
A atenção aos detalhes se estende até os componentes: o garfo Enve e os componentes Ritchey (guidão, mesa e canote) receberam o mesmo tratamento de pintura customizada, criando uma harmonia visual impressionante.
Especificações Técnicas: Simplicidade que Funciona

Apesar da aparência artística, as Mosaic XT-1 de Frederick são máquinas de guerra construídas para vencer. Confira o setup completo:
- Quadro: Mosaic XT-1 em titânio double-butted com pintura customizada Nebula
- Garfo: Enve Cross full carbon (pintado para combinar)
- Rodas: Hunt 30 Carbon CX tubular
- Pneus: Challenge Flandrien Team Edition S3 de 33mm (algodão, edição limitada com paredes roxas)
- Grupo: SRAM Red AXS 12 velocidades 1x wireless
- Corrente: SRAM Purple Flattop
- Pedivela: SRAM Red 42T com medidor de potência Quarq
- Guia de corrente: Wolf Tooth LoneWolf Aero
- Componentes: Ritchey WCS Carbon Zero (canote), C220 (mesa em alumínio) e EvoCurve 42cm (guidão em carbono)
- Porta-caramanhola: Silca Sicaro em titânio (uma por bike)
- Chris King: Caixa de direção, movimento central e abraçadeira de selim (anodizados em roxo e laranja)
- Selim: Fizik Vento Argo R1
- Pedais: Shimano XT clipless
A escolha por pneus tubulares Challenge com paredes roxas e componentes anodizados Chris King demonstra que Frederick não faz concessões quando se trata de estilo. Em Tábor, ele utilizou os Flandrien em vez dos Grifo devido às condições mais desafiadoras do percurso tcheco, que apresentava sulcos congelados nas áreas de sombra e uma camada de grama que descongelava ao sol.
Small Monsters: Uma Mensagem que Vai Além do Esporte
O que torna Ben Frederick verdadeiramente especial não são apenas suas bicicletas espetaculares, mas a história de superação que carrega em cada pedalada. Em 2015, Frederick sofreu um acidente devastador com lesão cerebral traumática que interrompeu sua promissora carreira no ciclismo profissional.

A lesão desencadeou uma luta intensa contra depressão, ansiedade e transtorno alimentar, culminando em hospitalização. Foi durante esse período sombrio que nasceu o projeto Small Monsters – uma organização sem fins lucrativos dedicada a reduzir o estigma em torno de desafios mentais e fornecer educação e recursos sobre concussões e outras lesões cerebrais traumáticas.
Como Frederick explica: “Lutar com uma doença mental pode ser como ter um GRANDE monstro, assustador e invisível. Minha esperança é que as pessoas possam trazer seus monstros à luz para torná-los menores e aprender a viver com seus pequenos monstros”.

Os pequenos monstros aparecem em seu uniforme e em suas bikes, servindo como lembrete constante de sua própria luta e para mostrar a outros que não estão sozinhos. Para saber mais sobre o projeto, visite TheSmallMonstersProject.com, onde você também encontra recursos para pessoas que possam ter sofrido concussões.
Quase Uma Década Depois: O Retorno ao Mais Alto Nível
Ben Frederick não é apenas mais um ciclista na Copa do Mundo de Ciclocross da UCI. Aos 36 anos, ele compete no nível elite enquanto mantém um emprego de tempo integral na empresa de vestuário ciclístico OrNot, onde trabalha em vendas e atendimento.

Seu objetivo para esta temporada era claro e desafiador: terminar na volta líder em pelo menos uma etapa da Copa do Mundo. Para quem acompanha o ciclocross profissional, sabe que isso não é pouca coisa – muitos ciclistas são ultrapassados ou retirados da prova antes de atrapalhar os líderes.
Na temporada passada, Frederick conseguiu apenas um finish na volta líder. Mas em Tábor, na abertura da temporada 2025-2026, ele já igualou essa marca. Vale destacar que nenhum ciclista mais velho que ele conseguiu terminar na volta líder naquela corrida.
Por Que Titânio? As Vantagens do Material Eterno
A escolha de Frederick pelo titânio não é apenas estética ou nostálgica. Este material oferece vantagens únicas para o ciclocross:
- Durabilidade lendária: O titânio não enferruja, não amassa facilmente e praticamente não requer manutenção
- Conforto natural: A flexibilidade controlada do titânio absorve vibrações melhor que o carbono rígido
- Reparo possível: Diferente do carbono, o titânio pode ser reparado se necessário
- Longevidade: Uma bike de titânio bem cuidada pode durar décadas
- Personalização total: Cada tubo pode ser selecionado e butted especificamente para o peso e estilo do piloto
A beleza dessas bikes de Frederick está justamente nisso: elas já foram corridas na temporada anterior. Após a temporada, foram desmontadas, repintadas e voltaram ainda mais bonitas para 2025-2026. Essa é a magia do titânio – um material que envelhece com dignidade.
Copa do Mundo de Ciclocross 2025-2026: O Cenário Atual
A Copa do Mundo de Ciclocross é a série mais importante do calendário da modalidade. A edição 2025-2026 começou em 23 de novembro em Tábor e se estenderá até o final de janeiro, com 12 etapas distribuídas pela Europa:
- Tábor, República Tcheca (23 de novembro)
- Flamanville, França (30 de novembro)
- Terralba Sardegna, Itália (7 de dezembro)
- Namur, Bélgica (14 de dezembro)
- Antwerpen, Bélgica (20 de dezembro)
- Koksijde, Bélgica (21 de dezembro)
- Gavere, Bélgica (26 de dezembro)
- Dendermonde, Bélgica (28 de dezembro)
- Zonhoven, Bélgica (4 de janeiro)
- Benidorm, Espanha (18 de janeiro)
- Maasmechelen, Bélgica (24 de janeiro)
- Hoogerheide, Holanda (25 de janeiro)
A maioria das etapas acontece na Bélgica e na Holanda, o coração do ciclocross europeu. O calendário é especialmente intenso em dezembro, com quatro provas em apenas dez dias, testando ao máximo a resistência dos competidores.
O Papel da UCI no Desenvolvimento do Ciclocross
A União Ciclística Internacional (UCI) mantém uma lista rigorosa de bicicletas aprovadas para competições oficiais. Esse processo de homologação garante que todos os competidores utilizem equipamentos que atendem aos padrões de segurança e fair play estabelecidos pela entidade.
É interessante notar que as Mosaic XT-1 de Frederick foram aprovadas apenas em novembro de 2024, mesmo tendo sido utilizadas por ele na temporada anterior. Isso demonstra que a UCI nem sempre fiscaliza todos os equipamentos no circuito imediatamente – mas quando o faz, os ciclistas precisam estar em conformidade.
Para consultar a lista completa de bikes aprovadas pela UCI, visite o site oficial em UCI.org.
Mosaic Cycles: Tradição Artesanal em Boulder
Fundada em 2013 por Aaron Barcheck após nove anos trabalhando na Dean Titanium Bicycles, a Mosaic Cycles rapidamente se estabeleceu como referência em bicicletas de titânio feitas sob medida. Localizada em Boulder, Colorado – um paraíso para ciclistas –, a empresa mantém uma filosofia clara:
“Somos um time de makers que fazem bikes artesanais para serem usadas e abusadas, não apenas cobiçadas”, diz a descrição da empresa.
Cada quadro Mosaic é soldado à mão com precisão, utilizando tubos de titânio selecionados especificamente para as necessidades do ciclista. A empresa não esconde suas soldas – pelo contrário, elas são exibidas com orgulho como demonstração da qualidade do trabalho artesanal.
Além dos quadros, a Mosaic opera a Spectrum Paint & Powder Works, sua própria oficina de pintura, permitindo acabamentos completamente personalizados que vão desde metálicos e perolizados até efeitos degradê multicoloridos e gravações que revelam o titânio bruto por baixo.
O prazo de entrega típico da Mosaic é de 6 a 8 semanas, impressionantemente rápido considerando que cada bike é feita completamente do zero. Visite MosaicCycles.com para conhecer toda a linha de produtos.
Componentes de Primeira Linha: A Escolha dos Profissionais
O setup de Frederick demonstra que mesmo em uma bike “old school” de titânio, os componentes são de última geração:
O grupo SRAM Red AXS representa o topo da linha da fabricante americana, oferecendo trocas eletrônicas wireless com precisão cirúrgica. A configuração 1x (coroa única) é padrão no ciclocross moderno, simplificando as trocas em condições de lama e oferecendo menos pontos de falha.
Os componentes Chris King anodizados em roxo e laranja não são apenas bonitos – são conhecidos pela durabilidade excepcional e rolagem suave, essenciais em uma modalidade tão exigente. A marca americana é sinônimo de qualidade absoluta no mundo do ciclismo.
As rodas Hunt 30 Carbon CX oferecem o equilíbrio perfeito entre peso, rigidez e aerodinâmica para o ciclocross, enquanto os pneus Challenge tubulares são a escolha de muitos profissionais pela aderência e sensação de rolagem superiores.
Lições de Vida de um Ciclista Inspirador
A história de Ben Frederick vai muito além de bicicletas bonitas e resultados em provas. Ela fala sobre resiliência, saúde mental e a coragem de recomeçar mesmo quando tudo parece perdido.
Quase uma década após o acidente que mudou sua vida, Frederick não apenas voltou a competir – ele está competindo no mais alto nível do esporte, enfrentando os melhores do mundo. E ele faz isso enquanto mantém um emprego regular, provando que é possível perseguir sonhos sem abandonar completamente a “vida normal”.
Seu projeto Small Monsters oferece recursos valiosos para pessoas que enfrentam desafios similares. No site do projeto, você encontra informações sobre concussões, lesões cerebrais traumáticas, saúde mental e histórias de superação que podem ajudar quem está passando por momentos difíceis.
O Futuro do Ciclocross: Tradição e Inovação Coexistindo
As bicicletas de Ben Frederick representam algo maior que a simples escolha de material. Elas simbolizam que no ciclismo moderno ainda há espaço para a tradição artesanal, personalização e individualidade em meio à padronização crescente do esporte profissional.
Enquanto muitas equipes World Tour utilizam os mesmos modelos de bicicletas de carbono produzidos em massa, Frederick escolhe pedalar em algo único, feito especificamente para ele, que conta sua história através de cada solda e pincelada de tinta.
O ciclocross em si é uma modalidade que celebra esse espírito único – corridas curtas e intensas, em terrenos variados, onde técnica, força e estratégia se combinam. É o ciclismo em sua forma mais pura e desafiadora.
Mais que uma Bike, uma Declaração
As Mosaic XT-1 de Ben Frederick são mais que bicicletas de competição aprovadas pela UCI. Elas são declarações de propósito, superação e paixão pelo ciclismo. Cada detalhe – desde a escolha do titânio até as pinturas Nebula customizadas – conta uma história de determinação.
Para os entusiastas do ciclismo, essas bikes servem de inspiração: você não precisa seguir o caminho convencional para alcançar seus objetivos. Para quem luta com desafios de saúde mental, Frederick mostra que é possível não apenas sobreviver, mas prosperar após os momentos mais sombrios.
E para o mundo do ciclocross, essas máquinas de titânio provam que mesmo em 2025, há lugar para a beleza atemporal dos materiais nobres e da construção artesanal no mais alto nível da competição internacional.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Por que Ben Frederick escolheu uma bike de titânio em vez de carbono?
Frederick escolheu o titânio pela durabilidade excepcional, conforto natural do material, facilidade de manutenção e pela possibilidade de personalização total. O titânio também não enferruja, não amassa facilmente e pode durar décadas com mínima manutenção – características perfeitas para o ciclocross.
2. Quanto custa uma bicicleta Mosaic customizada?
Os preços das bicicletas Mosaic variam conforme o modelo e especificações, mas geralmente começam em torno de US$ 8.000 para um frameset completo com acabamento customizado. Bikes completas montadas podem facilmente ultrapassar US$ 15.000, dependendo dos componentes escolhidos.
3. O que é o projeto Small Monsters de Ben Frederick?
Small Monsters é uma organização sem fins lucrativos fundada por Frederick para reduzir o estigma em torno de desafios de saúde mental e fornecer educação sobre concussões e lesões cerebrais traumáticas. O projeto nasceu da própria experiência de Frederick após sofrer um acidente em 2015.
4. Qual é a geometria da Mosaic XT-1 de Ben Frederick?
Frederick utiliza um quadro tamanho 56cm com geometria completamente customizada para suas medidas e preferências de pilotagem. Como todas as Mosaic são feitas sob medida, cada bike tem geometria única baseada nas especificações do ciclista.
5. O que significa “terminar na volta líder” no ciclocross?
No ciclocross de nível mundial, as corridas são tão rápidas que muitos competidores são ultrapassados pelos líderes antes do final. Terminar “na volta líder” significa que você completou todas as voltas no mesmo tempo que os primeiros colocados, sem ser ultrapassado – um feito notável que demonstra alto nível competitivo.
6. Por que a UCI precisa aprovar as bicicletas?
A UCI mantém uma lista de bicicletas aprovadas para garantir que todos os competidores utilizem equipamentos que atendem aos padrões de segurança, dimensões regulamentares e princípios de fair play. Isso evita vantagens injustas e mantém a integridade das competições.
7. Qual é a diferença entre pneus tubulares e clincher no ciclocross?
Pneus tubulares são costurados completamente ao redor da câmara e colados na roda, oferecendo melhor sensação de pilotagem, menor peso e impossibilidade de “pinçar” em impactos. Já os clinchers (ou pneus comuns) usam aros com ganchos e são mais fáceis de trocar, mas podem ser menos eficientes em alta performance.
8. Quanto tempo leva para a Mosaic fazer uma bike customizada?
O prazo típico da Mosaic Cycles é de 6 a 8 semanas, do pedido à entrega. Isso é impressionantemente rápido considerando que cada quadro é completamente feito à mão, com tubos selecionados individualmente, geometria customizada e pintura personalizada.
9. O que são as pinturas Nebula da Mosaic?
As pinturas Nebula fazem parte da Artist Series da Mosaic, executadas pela Spectrum Paint & Powder Works (empresa irmã da Mosaic). Trata-se de acabamentos artesanais com múltiplas cores, efeitos degradê e acabamentos metálicos que criam padrões únicos inspirados em nebulosas cósmicas.
10. Como posso acompanhar a Copa do Mundo de Ciclocross?
A UCI oferece transmissão gratuita ao vivo de todas as etapas da Copa do Mundo em seu canal no YouTube (com restrições geográficas). Além disso, diversos canais de TV e serviços de streaming em diferentes países transmitem as corridas. No Brasil, algumas plataformas de streaming esportivo podem oferecer a cobertura.

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