A relação entre ciclismo e fertilidade masculina é um tema que gera debates acalorados há décadas. Muitos homens que praticam ou desejam começar a pedalar se perguntam: será que passar horas sobre o selim pode comprometer minha capacidade reprodutiva? Vamos mergulhar nesse assunto com base nas evidências científicas mais recentes e desvendar o que é mito e o que é realidade.
Índice do Conteúdo – Ciclismo e Fertilidade Masculina
Como Surgiu o Mito do Ciclismo e Infertilidade
Desde que o ciclismo se popularizou como esporte e meio de transporte no século XIX, surgiram preocupações sobre seus possíveis efeitos na saúde reprodutiva masculina. A principal teoria sugeria que a pressão constante do selim sobre a região pélvica poderia causar danos aos órgãos reprodutivos.

Em 1997, o pesquisador Irwin Goldstein, da Universidade de Boston, estimou que cerca de 100 mil homens teriam desenvolvido impotência sexual como resultado direto da prática do ciclismo. Essa declaração gerou pânico entre ciclistas e desencadeou uma série de estudos científicos para investigar a veracidade dessa afirmação.
O Que Dizem os Estudos Científicos Recentes

A boa notícia é que as pesquisas mais atualizadas contradizem o mito inicial. Um estudo publicado em 2017 no Journal of Urology, da Associação Americana de Urologia, analisou dados de 2.774 ciclistas, 539 nadadores e 789 corredores. Os resultados foram surpreendentes: ciclistas não apresentaram mais problemas urinários ou de saúde sexual do que os demais atletas avaliados.
Uma revisão sistemática publicada em 2025 no portal WeMEDS demonstrou que diferentes modalidades de exercício promovem benefícios específicos sobre parâmetros do sêmen. Interessantemente, o ciclismo aeróbico mostrou impacto positivo na concentração espermática quando praticado moderadamente.
A Questão da Temperatura Testicular
Um dos pontos mais discutidos é o aumento da temperatura na região genital durante o ciclismo. Sabemos que a produção ideal de espermatozoides exige que a temperatura dos testículos fique cerca de 2°C abaixo da temperatura corporal. Durante pedaladas longas, fatores como fricção contra o selim, uso de roupas justas e exposição prolongada ao calor podem elevar essa temperatura.
Entretanto, estudos demonstram que esse aumento temporário não se traduz necessariamente em diminuição permanente da qualidade do esperma ou da fertilidade. O corpo possui mecanismos de termorregulação eficientes que ajudam a manter o equilíbrio térmico adequado.
Impacto na Qualidade do Esperma

A qualidade seminal é um indicador crucial da fertilidade masculina. Pesquisas com ciclistas profissionais que pedalam intensamente (mais de 3 horas por semana) mostram resultados contraditórios. Alguns estudos apontam para alterações na morfologia dos espermatozoides, enquanto outros não encontram diferenças significativas quando comparados a não ciclistas.
Um ponto importante: a maioria dos estudos que encontraram alterações focou em ciclistas de alta performance, aqueles que treinam em níveis suprafisiológicos. Para ciclistas recreativos e amadores, os benefícios gerais da atividade física superam amplamente qualquer risco potencial.
Fatores de Risco: Quando a Preocupação é Válida
Embora o ciclismo moderado não represente riscos significativos, algumas situações merecem atenção especial:
- Volume excessivo de treino: Ciclistas que pedalam mais de 5 horas semanais em alta intensidade podem apresentar redução temporária na concentração de espermatozoides. Isso não significa infertilidade permanente, mas pode afetar temporariamente a capacidade reprodutiva.
- Compressão do nervo pudendo: A pressão prolongada sobre o períneo pode causar inflamação crônica e comprometer a sensibilidade da região escrotal, além de afetar o suprimento sanguíneo adequado.
- Selim inadequado: Um banco mal ajustado ou não ergonômico aumenta significativamente a pressão sobre áreas sensíveis, podendo causar desconforto, dormência e, em casos extremos, danos vasculares.
- Posicionamento incorreto: Uma bike mal ajustada força posturas inadequadas que aumentam a pressão sobre a região pélvica.
Como Proteger Sua Saúde Reprodutiva Pedalando
A ciência mostra que é perfeitamente possível praticar ciclismo sem comprometer a fertilidade. Basta seguir algumas recomendações importantes:
1. Escolha do Selim Adequado
A escolha do selim ergonômico é absolutamente fundamental. Modelos vazados ou com recortes centrais são projetados especificamente para aliviar a pressão na região perineal, melhorando a circulação sanguínea e reduzindo o atrito.
A largura do selim deve corresponder à distância entre seus ossos isquiáticos. Lojas especializadas oferecem medição gratuita usando almofadas especiais que registram a marca das proeminências ósseas. Uma diferença de apenas 1cm na largura pode fazer toda a diferença no conforto e na saúde.
Selins modernos com tecnologia cutaway (recorte central) e materiais de gel ou espuma de alta densidade distribuem melhor o peso corporal, minimizando pontos de pressão específicos. Marcas como Selle Royal, Fizik e Specialized desenvolveram modelos específicos para anatomia masculina.
2. Bike Fit Profissional
Um bike fit adequado é tão importante quanto o selim escolhido. O posicionamento correto do selim (altura, inclinação e posição horizontal) garante que o peso seja distribuído corretamente sobre os ossos isquiáticos, e não sobre tecidos moles.
O selim deve estar perfeitamente nivelado ou com uma leve inclinação para baixo (máximo 3 graus). Selins apontados para cima aumentam drasticamente a pressão sobre o períneo. A altura também é crítica: um selim muito alto força o ciclista a se esticar, aumentando a pressão; muito baixo compromete a eficiência da pedalada.
3. Intervalos Regulares Durante Pedaladas Longas
Durante treinos ou passeios prolongados, é essencial fazer pausas regulares a cada 30-45 minutos. Levantar-se do selim por alguns momentos, mesmo durante a pedalada, permite que o sangue circule livremente pela região pélvica, evitando dormência e desconforto.
Use obstáculos naturais do percurso como oportunidade: ao subir uma rampa mais íngreme, pedale em pé. Além de aliviar a pressão, essa técnica fortalece diferentes grupos musculares e melhora sua técnica de pilotagem.
4. Equipamentos de Qualidade
Invista em bretelles de ciclismo com forros de boa qualidade. O forro (chamado de chamois) deve ter densidade e espessura adequadas, com recortes estratégicos que correspondam ao formato do selim. Evite forros muito grossos ou com “memória”, pois eles comprimem excessivamente a região ao longo do tempo.
Troque os forros regularmente. Com o uso, eles perdem propriedades de amortecimento e podem até acumular bactérias que causam irritações. Uma bermuda de qualidade dura cerca de 6-12 meses de uso frequente.
5. Volume de Treino Equilibrado
Para homens que estão tentando ter filhos, especialistas recomendam limitar o ciclismo a no máximo 5 horas semanais de treino intenso. Isso não significa abandonar o esporte, mas sim moderar a intensidade e o volume durante o período de tentativas de concepção.
Intercalar o ciclismo com outras atividades físicas, como natação, corrida ou musculação, pode ser uma excelente estratégia para manter o condicionamento sem sobrecarregar uma única região do corpo.
Mitos Sobre Roupas Acolchoadas
Contrariando o senso comum, roupas excessivamente acolchoadas podem ser prejudiciais. Forros muito grossos retêm calor e umidade, elevando a temperatura testicular – exatamente o oposto do desejado. O ideal é um forro de densidade média, que ofereça amortecimento sem criar um “efeito estufa“.
Tecidos respiráveis e com tecnologia de controle de umidade são fundamentais. Após o treino, troque imediatamente a roupa molhada para evitar proliferação bacteriana e irritações cutâneas.
Benefícios do Ciclismo Para a Saúde Geral
É importante contextualizar: os benefícios cardiovasculares, metabólicos e psicológicos do ciclismo são imensos e amplamente documentados. Estudos mostram que homens fisicamente ativos têm concentração de espermatozoides até 43% superior comparados a sedentários.
O ciclismo melhora a circulação sanguínea geral, reduz o estresse oxidativo, equilibra hormônios e diminui a gordura corporal – todos fatores que contribuem positivamente para a fertilidade masculina. O exercício regular também está associado a níveis mais saudáveis de testosterona e melhor saúde sexual em geral.
Quando Procurar um Especialista
Se você está tentando ter filhos há mais de um ano sem sucesso e pratica ciclismo intensamente, vale consultar um urologista ou especialista em medicina reprodutiva. Um espermograma pode avaliar objetivamente a qualidade seminal e identificar possíveis problemas.
Sinais de alerta que merecem atenção médica incluem:
- Dormência persistente na região genital durante ou após pedalar
- Dificuldade de ereção ou manutenção da ereção
- Dor crônica no períneo ou região pélvica
- Alterações na sensibilidade da região escrotal
Importante: nunca interrompa o ciclismo sem orientação profissional. Na maioria dos casos, ajustes simples no equipamento e no volume de treino resolvem qualquer desconforto.
Ciclismo e Saúde da Próstata
Uma pesquisa britânica da UCL (University College London) afirmou categoricamente que homens “não devem se preocupar com aumento do risco de câncer de próstata pelo ciclismo”. Segundo o Dr. Milo Hollingworth, pesquisador responsável, os benefícios para pulmões, coração, mente e corpo superam amplamente qualquer risco teórico.
Quanto aos exames de PSA (antígeno prostático específico), estudos recentes mostram que não há problemas em realizá-los no dia seguinte a um treino. Pode ocorrer elevação discreta se o exame for feito com menos de 48 horas após pedalar, mas essa variação é mínima e não compromete a interpretação médica.
Alternativas e Modalidades Complementares
Para quem deseja diversificar o treino, outras modalidades de ciclismo podem ser interessantes:
- Mountain bike: As constantes mudanças de posição e trechos pedalando em pé naturalmente alternam os pontos de pressão.
- Gravel: A postura mais ereta reduz a pressão sobre o períneo comparada ao ciclismo de estrada.
- Indoor cycling: Permite controle total do ambiente e facilita pausas regulares durante os treinos.
Pedale Sem Medo
A ciência é clara: o ciclismo moderado não afeta negativamente a fertilidade masculina. Os mitos persistem, mas as evidências mostram que ciclistas recreativos e até mesmo muitos ciclistas profissionais não apresentam diferenças significativas na qualidade seminal comparados a não ciclistas.
A chave está no equilíbrio: escolher equipamentos adequados, manter volume de treino razoável, fazer ajustes ergonômicos corretos e respeitar os sinais do corpo. Com esses cuidados, você pode desfrutar de todos os benefícios do ciclismo sem comprometer sua saúde reprodutiva.
Lembre-se: os benefícios do ciclismo para saúde cardiovascular, controle de peso, saúde mental e qualidade de vida são comprovados e substanciais. Não deixe que mitos infundados impeçam você de pedalar. Ajuste seu equipamento, consulte especialistas se necessário e continue aproveitando a liberdade e o prazer que só o ciclismo proporciona.
Perguntas Frequentes Sobre Ciclismo e Fertilidade Masculina
1. O ciclismo realmente causa infertilidade masculina?
Não. Estudos científicos recentes, incluindo uma pesquisa de 2017 publicada no Journal of Urology com mais de 4.000 participantes, demonstram que ciclistas não apresentam mais problemas de fertilidade do que praticantes de outras modalidades esportivas. O ciclismo moderado é seguro para a saúde reprodutiva masculina.
2. Quantas horas de ciclismo por semana são seguras?
Para a maioria dos homens, até 5 horas semanais de ciclismo não representam riscos à fertilidade. Ciclistas que pedalam mais de 5 horas semanais em alta intensidade podem apresentar alterações temporárias na concentração de espermatozoides, mas sem comprometimento permanente da fertilidade. Para quem está tentando ter filhos, recomenda-se moderar o volume nesse período.
3. Qual tipo de selim é melhor para proteger a fertilidade?
Selins ergonômicos com recorte central (cutaway) são os mais recomendados. Eles aliviam a pressão sobre o períneo e melhoram a circulação sanguínea na região. A largura deve corresponder à distância entre seus ossos isquiáticos, medida que pode ser feita em lojas especializadas. Materiais com gel ou espuma de densidade média oferecem melhor suporte.
4. O selim pode causar impotência sexual?
Estudos mostram que não há relação direta entre ciclismo e impotência sexual quando praticado corretamente. No entanto, um selim inadequado ou mal posicionado pode causar compressão do nervo pudendo, levando a dormência temporária e desconforto. Com equipamento adequado e pausas regulares, esse risco é praticamente eliminado.
5. Devo parar de pedalar se estou tentando ter filhos?
Não é necessário parar completamente. Na verdade, exercícios moderados melhoram a qualidade do esperma. O ideal é manter o volume de treino até 5 horas semanais, garantir que o equipamento esteja adequado e fazer intervalos durante pedaladas longas. Se houver dificuldade para engravidar após um ano, consulte um especialista antes de interromper o ciclismo.
6. Bermudas acolchoadas ajudam a proteger a fertilidade?
Sim, mas com ressalvas. Bermudas com forros (chamois) de qualidade ajudam a distribuir a pressão e reduzir o atrito. Entretanto, forros excessivamente grossos podem reter calor e elevar a temperatura testicular, o que é prejudicial. O ideal é um forro de densidade média, feito com materiais respiráveis que controlam a umidade.
7. O calor gerado durante o ciclismo afeta os espermatozoides?
Durante o ciclismo, há um aumento temporário da temperatura na região genital devido à fricção e ao uso de roupas justas. Porém, esse aumento não é permanente e o corpo possui mecanismos de termorregulação eficientes. Estudos mostram que esse aquecimento temporário não compromete significativamente a qualidade do esperma em ciclistas recreativos.
8. Com que frequência devo fazer pausas durante pedaladas longas?
Recomenda-se fazer pausas a cada 30-45 minutos durante pedaladas prolongadas. Levantar-se do selim por alguns momentos, mesmo continuando a pedalar, permite que o sangue circule adequadamente pela região pélvica. Em subidas, aproveite para pedalar em pé, alternando os pontos de pressão.
9. Bike fit realmente faz diferença para a saúde reprodutiva?
Sim, faz toda a diferença. Um bike fit profissional garante que o selim esteja na altura, inclinação e posição horizontal corretas, distribuindo o peso adequadamente sobre os ossos isquiáticos. Um ajuste inadequado aumenta drasticamente a pressão sobre tecidos moles e nervos, podendo causar desconforto, dormência e, em casos extremos, comprometimento circulatório.
10. Ciclistas profissionais têm problemas de fertilidade?
Estudos com ciclistas profissionais mostram resultados contraditórios. Alguns apontam alterações na morfologia dos espermatozoides em atletas que treinam mais de 3 horas diárias, enquanto outros não encontram diferenças significativas. É importante notar que ciclistas profissionais representam uma situação extrema de volume e intensidade de treino, muito distante da realidade da maioria dos praticantes.
11. Que sinais indicam que devo procurar um médico?
Procure um urologista se experimentar dormência persistente na região genital durante ou após pedalar, dificuldades de ereção, dor crônica no períneo, alterações na sensibilidade escrotal ou se está tentando engravidar há mais de um ano sem sucesso. Esses sintomas merecem avaliação profissional e não devem ser ignorados.
12. O ciclismo indoor (spinning) é mais seguro que o ciclismo outdoor?
Não necessariamente. Ambos podem ser seguros com equipamento adequado. O ciclismo indoor oferece a vantagem de controle total do ambiente e facilidade para fazer pausas. Já o ciclismo outdoor proporciona variações naturais de terreno que forçam mudanças de posição. O mais importante é o ajuste correto do equipamento e o respeito aos limites do corpo, independente da modalidade.
13. Exercícios físicos em geral melhoram a fertilidade masculina?
Sim! Estudos demonstram que homens fisicamente ativos têm concentração de espermatozoides até 43% superior comparados a sedentários. O exercício regular melhora a circulação sanguínea, equilibra hormônios, reduz o estresse oxidativo e contribui para níveis saudáveis de testosterona. O ciclismo, quando praticado adequadamente, faz parte desse contexto positivo.
14. Posso fazer exame de PSA depois de pedalar?
Sim, estudos recentes mostram que não há problemas em realizar exame de PSA no dia seguinte a um treino de ciclismo. Pode ocorrer uma elevação discreta nos níveis se o exame for feito com menos de 48 horas após pedalar, mas essa variação é mínima e não compromete a interpretação médica. Para maior segurança, pacientes em monitoramento rigoroso podem aguardar dois dias entre o último treino e o exame.
15. Existe alguma relação entre ciclismo e câncer de próstata?
Não. Pesquisas britânicas da UCL afirmam categoricamente que não há evidências de aumento do risco de câncer de próstata relacionado ao ciclismo. Pelo contrário, os benefícios cardiovasculares, metabólicos e para a saúde geral proporcionados pela prática regular de ciclismo superam amplamente qualquer risco teórico. Homens devem pedalar o quanto puderem, respeitando os limites do corpo.

O criador desta plataforma é a prova de que experiência e inovação pedalam juntas. Fundador do Ciclismo pelo Mundo, ele transformou décadas de vivência sobre duas rodas em um dos portais mais respeitados do ciclismo nacional.
Mais que um site, construiu um ecossistema onde veteranos e iniciantes convergem em busca de evolução. Cada artigo, vídeo e análise carrega o DNA de quem não apenas pratica, mas vive e respira ciclismo há mais de duas décadas.
Do asfalto às trilhas, dos treinos básicos às estratégias avançadas, o portal traduz a linguagem complexa do esporte em conteúdo acessível e transformador. Um legado digital construído pedalada por pedalada, quilômetro por quilômetro.
