O mercado de transferências do ciclismo profissional para a temporada 2026 apresenta um cenário incomum e preocupante. Desde agosto, quando a janela de transferências abriu suas portas, inúmeros atletas já garantiram seus lugares em novas equipes, mas um grupo significativo de ciclistas experientes ainda enfrenta a incerteza sobre seu futuro no esporte. A situação se agravou com o fim de várias equipes tradicionais, incluindo a Arkéa-B&B Hotels devido à perda de patrocinadores, a fusão entre Intermarché-Wanty e Lotto, além do encerramento da Ceratizit, inundando o mercado com corredores em busca de novas oportunidades.
O Impacto das Equipes Extintas no Mercado
A reorganização do pelotão profissional criou um efeito dominó que afeta diretamente dezenas de atletas. Nos últimos dias, alguns nomes conseguiram resolver sua situação – Sam Bennett confirmou sua ida para a Q36.5, enquanto Michael Matthews (Jayco-AlUla), Richard Carapaz (EF Education-EasyPost) e Michał Kwiatkowski (Ineos Grenadiers) aparentemente permanecerão em suas equipes atuais. Contudo, muitos outros ainda esperam definições que podem determinar não apenas o próximo ano, mas potencialmente o fim de suas carreiras profissionais.
Veteranos em Busca de Novas Oportunidades
Rui Costa: O Ex-Campeão Mundial

Aos 39 anos, Rui Costa, ex-campeão mundial, representa um dos casos mais emblemáticos dessa temporada de incertezas. O português da EF Education-EasyPost está entre vários atletas da equipe sem contrato confirmado, incluindo Jefferson Cepeda, Esteban Chaves e James Shaw. Mesmo com a equipe tendo apenas 19 corredores confirmados para 2026, o futuro de Costa permanece indefinido. Embora já não alcance os picos de performance que o levaram ao título mundial, o ciclista lusitano ainda demonstra capacidade de resultados expressivos, como seu quinto lugar no Figueira Champions Classic e segundo posto no Trofeo Matteotti em 2025. Seu valor como capitão de estrada e líder experiente poderia ser um diferencial para equipes em busca de liderança dentro do pelotão.
Fernando Gaviria: Velocista em Crise

A trajetória de Fernando Gaviria ilustra perfeitamente os desafios que um velocista enfrenta quando os resultados minguam. O colombiano chegou à Movistar em 2023 buscando rejuvenescer uma carreira que havia perdido brilho durante quatro temporadas difíceis na UAE Team Emirates. Entretanto, apenas três vitórias em dois anos com a equipe espanhola contam uma história preocupante. Sua última conquista em uma Grande Volta data de 2019, no Giro d’Italia, e os tempos áureos na QuickStep parecem cada vez mais distantes. Com 31 anos, Gaviria tecnicamente ainda tem tempo de carreira, mas o mercado de velocistas é impiedoso: equipes buscam sprinters que entreguem pódios consistentes, e o colombiano acumulou apenas quatro top-5 em 2025, sem nenhum pódio.
Tiffany Cromwell: Transição Entre Estrada e Gravel

A australiana Tiffany Cromwell representa um perfil diferente nesta lista. Depois de onze temporadas consecutivas com a Canyon-SRAM zondacrypto desde 2015, a ciclista de 37 anos encontra-se em uma encruzilhada profissional. Nos últimos anos, Cromwell brilhou no ciclismo gravel, conquistando eventos do Gravel World Series, vencendo a prova de 100 milhas no Unbound Gravel e faturando um título nacional. Seu primeiro lugar técnico (embora não oficial) no Campeonato Europeu de 2023 demonstra seu potencial nessa modalidade em crescimento. A questão que permanece é se ela optará por mais uma temporada no pelotão profissional de estrada ou fará a transição completa para o gravel, onde já provou ser uma das melhores do mundo.
Casos Especiais: Lesões e Incertezas
Victor Lafay: Entre Lesões e Decisões

A situação de Victor Lafay é particularmente delicada. O francês de 29 anos, que brilhou com vitórias de etapa no Giro d’Italia (2021) e Tour de France (2023), além do triunfo no Arctic Race of Norway (2022), passou por duas temporadas devastadoras de lesões. Problemas recorrentes no joelho o afastaram das competições por meses, incluindo uma cirurgia que o tirou de ação por quatro meses em 2025. Em declaração recente ao Cyclingnews durante o Tour of Guangxi, Lafay foi brutalmente honesto: “Estou realmente em 50-50” sobre continuar no ciclismo. Essa indecisão reflete não apenas as dificuldades físicas, mas também o desgaste psicológico de lidar com lesões persistentes na Decathlon AG2R.
Hugh Carthy: De Promessa a Incerteza

O britânico Hugh Carthy parecia destinado a se tornar o próximo grande nome do ciclismo britânico na GC após seu impressionante terceiro lugar na Vuelta a España de 2020. Os top-10 no Giro d’Italia de 2021 e 2022 reforçavam essa expectativa. Contudo, as últimas duas temporadas revelaram um declínio preocupante. Sem disputar uma Grande Volta desde o duplo Giro-Vuelta de 2023, Carthy viu suas oportunidades na EF Education-EasyPost diminuírem drasticamente. Seu melhor resultado nos últimos dois anos foi um modesto sexto lugar no O Gran Camiño de 2024, e 2025 passou em branco sem um único top-10. Sua última corrida foi a Andorra MoraBanc Clàssica em junho – teria sido o fim de sua trajetória com a equipe americana?
Jack Haig: Experiência em Busca de Espaço

Assim como Carthy, Jack Haig experimentou o sabor do pódio em uma Grande Volta, ficando em terceiro na Vuelta de 2021. O australiano também acumulou excelentes resultados em corridas por etapas como Paris-Nice e Critérium du Dauphiné. Embora não alcance mais os mesmos patamares de performance, o ciclista de 32 anos evoluiu para um papel crucial como capitão de estrada na Bahrain Victorious, participando do Tour e da Vuelta nas duas últimas temporadas. Sua experiência e capacidade de liderança permanecem valiosas, e considerando que a Bahrain ainda tem vagas abertas em seu roster de 2026, seria surpreendente se ele não permanecesse na equipe.
Jovens Talentos em Busca de Espaço
Ruby Roseman-Gannon: O Futuro Incerto da Australiana

Ruby Roseman-Gannon representa a próxima geração do ciclismo feminino. Após virar profissional em 2022, a australiana mostrou grande potencial em 2023 e 2024, com top-5 no Classic Lorient Agglomération e Tour Down Under, além de uma vitória de etapa no Tour of Britain Women e o título nacional australiano. Aos 26 anos, 2025 foi uma temporada mais discreta, sem resultados de destaque semelhantes. Completando sua quarta temporada na Liv-AlUla-Jayco, Roseman-Gannon aguarda definições. A equipe enfrentou dificuldades administrativas, perdendo o prazo inicial para licença Women’s WorldTour, mas conseguiu continuar com 13 corredoras confirmadas para 2026. A questão é se haverá espaço para a velocista australiana no elenco renovado.
Luke Lamperti: Jovem Promessa sem Lugar

O norte-americano Luke Lamperti está no final de seu contrato de estreia de dois anos com a Soudal-QuickStep. Com a equipe já completando 30 corredores para 2026, tudo indica que o californiano de 22 anos precisará buscar novos horizontes. Sua temporada de estreia em 2024 foi promissora, com pódios no Challenge Mallorca e Tour of Oman, além de um sétimo lugar na Kuurne-Brussel-Kuurne. Também fez sua estreia em Grande Volta no Giro d’Italia, venceu uma etapa do Czech Tour e ficou em quarto no Deutschland Tour. Em 2025, adicionou outra vitória de etapa no Czech Tour, pódios em Nokere Koerse e Bredene Koksijde Classic, e um quinto lugar na etapa final do Giro. O jovem demonstrou que tem nível para o WorldTour e, aos 22 anos, ainda possui muito desenvolvimento pela frente.
Especialistas em Busca de Reconhecimento
Christina Schweinberger: Contrarrelogista em Limbo

A austríaca Christina Schweinberger, campeã nacional de contrarrelógio, está no final de três temporadas com a equipe belga Fenix-Deceuninck. A especialista de 29 anos é uma das melhores contrarrelogistas do mundo, ostentando pódios nos Campeonatos Europeu e Mundial em seu currículo. Além disso, mostrou-se competitiva nas clássicas, com quatro pódios entre Binche Chimay Binche e Dwars door het Hageland. Sua temporada de 2025 terminou com um pódio no Chrono des Nations. Com a Fenix-Deceuninck tendo apenas oito corredoras confirmadas para 2026, há espaço de sobra para renovação, mas a ausência de anúncio deixa seu futuro em aberto.
Sam Welsford: O Dilema do Velocista

Com Sam Bennett já tendo encontrado destino, Sam Welsford emerge como um dos principais velocistas sem contrato para 2026. A Red Bull-Bora-Hansgrohe oficialmente tem uma vaga restante, mas o consenso geral é que Welsford está de saída. Sua exclusão da equipe do Tour de France em 2025, com a equipe priorizando Jordi Meeus e Danny van Poppel como velocistas, sinalizou claramente a mudança de direção. O problema, segundo o respeitado jornalista Daniel Benson, é que negociações com a Ineos Grenadiers podem ter estagnado. O mercado de velocistas é particularmente complexo: não basta apenas um contrato, os sprinters precisam de garantias de que serão o velocista prioritário com um trem de lançamento competente. O tempo está se esgotando para Welsford encontrar o lar ideal para 2026.
Outros Nomes Notáveis Sem Contrato
Além dos perfis destacados, diversos outros ciclistas de renome ainda não confirmaram suas equipes para a próxima temporada. Entre as mulheres, destacam-se nomes como Emilia Fahlin (Arkéa-B&B Hotels), Clara Koppenburg (Cofidis), Nina Kessler (EF Education-Oatly), Romy Kasper (Human Powered Health), Ella Wyllie (Liv-AlUla-Jayco), Veronica Ewers (EF Education-Oatly), Ilaria Sanguineti (Lidl-Trek) e Lotte Claes (Arkéa-B&B Hotels).
No pelotão masculino, a lista inclui veteranos como Ben Swift (Ineos Grenadiers), Florian Sénéchal (Arkéa-B&B Hotels), Esteban Chaves (EF Education-EasyPost), Jesús Herrada (Cofidis), Ruben Guerreiro (Movistar), James Shaw (EF Education-EasyPost), Lucas Hamilton (Ineos Grenadiers) e Andrea Pasqualon (Bahrain Victorious). Cada um desses atletas carrega uma história única e contribuições significativas para o esporte, tornando sua situação atual ainda mais preocupante.
O Futuro do Mercado de Transferências
Nas próximas semanas e meses, as equipes finalizarão seus elencos e confirmarão seus rosters completos para 2026. A grande questão que paira sobre o ciclismo profissional é: todos encontrarão um lugar? A realidade é dura: alguns desses atletas podem estar pedalando suas últimas temporadas, enquanto outros podem precisar aceitar condições menos favoráveis ou equipes de menor expressão para continuar competindo. O mercado de transferências do ciclismo, como em qualquer esporte profissional, é implacável, e mesmo carreiras brilhantes podem ter finais abruptos quando os contratos se esgotam e as oportunidades diminuem.
Para os fãs e observadores do esporte, este período oferece uma oportunidade única de reflexão sobre a natureza transitória das carreiras atléticas e a constante renovação do pelotão profissional. Enquanto alguns veteranos podem estar chegando ao final de suas jornadas, novos talentos emergem para escrever seus próprios capítulos na rica história do ciclismo mundial.
Este artigo foi baseado em informações de múltiplas fontes especializadas em ciclismo profissional. Para acompanhar as últimas atualizações sobre transferências e contratos para 2026, consulte as fontes oficiais das equipes e publicações especializadas como Cyclingnews e outros veículos de mídia esportiva.

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