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Como é Competir em uma Corrida Profissional de Gravel: Os Bastidores do Campeonato Nacional de Gravel dos Estados Unidos

Descubra os bastidores de uma corrida profissional de gravel: preparação intensa, escolhas estratégicas de equipamento e os desafios de 157 km com mais de 2.000 metros de elevação.

Campeonato Nacional de Gravel dos EUA: Lauren Stephens conquista o terceiro título consecutivo

Entrar em uma corrida profissional de gravel é mergulhar em um universo onde preparação meticulosa, escolhas estratégicas de equipamento e resiliência mental se encontram. Quando você se posiciona na linha de largada de um evento como o Campeonato Nacional de Gravel dos Estados Unidos, a tensão no ar é palpável, e cada detalhe conta para definir quem cruzará a linha de chegada primeiro.

O Desafio que Aguarda: 157 Quilômetros de Pura Adrenalina

A corrida não é para os fracos de coração. Imagine pedalar por 97 milhas (cerca de 157 km) através de um terreno que acumula mais de 7.000 pés de elevação (aproximadamente 2.100 metros). Esse foi o cenário do Campeonato Nacional realizado em La Crescent, Minnesota, uma região onde Wisconsin, Minnesota e Iowa se encontram, criando o que os locais chamam de “Driftless Region” – uma paisagem corrugada e primitiva que os glaciares da Era do Gelo não conseguiram nivelar.

Campeonato Nacional de Gravel dos EUA: Lauren Stephens conquista o terceiro título consecutivo
Campeonato Nacional de Gravel dos EUA: Lauren Stephens conquista o terceiro título consecutivo

Para quem nunca competiu em alto nível, pode parecer “apenas” uma pedalada longa. Mas a realidade é bem diferente. Cada subida de 5 a 7 minutos com gradientes médios entre 6% e 10% testa seus limites cardiovasculares. E quando aparecem trechos com 15% de inclinação, a tração e a aderência dos pneus se tornam fatores decisivos.

A Preparação que Faz a Diferença

Competir em elite não é simplesmente aparecer com uma bike e pedalar forte. A preparação começa semanas antes, com um estudo minucioso do percurso. Atletas profissionais analisam cada elevação, cada curva, cada seção de cascalho para entender onde podem ganhar ou perder segundos preciosos.

A nutrição é calculada com precisão cirúrgica. Para uma prova dessa magnitude, um ciclista pode precisar consumir cerca de 700 gramas de carboidratos ao longo do dia. Isso significa planejar exatamente quando e o que comer em cada ponto de abastecimento. Géis de cafeína, barras energéticas e bebidas isotônicas se tornam combustível estratégico, não apenas comida.

Equipamento: Cada Escolha Importa

A escolha do equipamento pode definir uma corrida. Nos campeonatos nacionais de gravel, a decisão mais crucial geralmente gira em torno dos pneus. Muitos ciclistas profissionais optam por pneus de 45mm, como os populares Panaracer X1, que oferecem o equilíbrio perfeito entre velocidade e tração.

Alguns competidores apostam em pneus semi-slick, que são inquestionavelmente mais rápidos em linha reta, mas escorregadios nas curvas de cascalho molhado. A maioria desses atletas tem experiência em mountain bike profissional, o que explica a confiança em lidar com descidas técnicas a mais de 40 mph (64 km/h) em superfícies instáveis.

Outros equipamentos essenciais incluem:

  • Óculos com lentes fotocromáticas que se adaptam automaticamente às mudanças de luz
  • Mochila de hidratação para garantir líquidos suficientes entre os postos de abastecimento
  • Capacete aerodinâmico para ganhos marginais que podem fazer diferença
  • Sapatilhas profissionais que maximizam a transferência de potência
  • Ciclocomputador com GPS para navegação precisa no percurso

A Batalha Mental Durante a Corrida

Quando a largada é dada, o pelotão de elite acelera imediatamente. Velocidades superiores a 32 mph (51 km/h) nos primeiros quilômetros não são incomuns. É uma demonstração de força, uma tentativa de selecionar quem realmente tem pernas para disputar o título.

As primeiras subidas começam a fragmentar o grupo. Alguns ciclistas atacam cedo, tentando criar uma vantagem. Outros preferem economizar energia, sabendo que o verdadeiro teste virá nas horas finais. A gestão de esforço é uma arte refinada – pedalar forte demais cedo pode significar explodir antes do final; poupar demais pode deixá-lo fora da briga.

As descidas de cascalho são outro universo. Voar a mais de 60 km/h por uma estrada de terra com curvas fechadas exige habilidade técnica excepcional. Muitos ciclistas perdem posições justamente nessas descidas, onde o bike handling (controle da bicicleta) faz toda diferença.

O Muro Final: 30% de Inclinação

Depois de 157 quilômetros e mais de 2.000 metros de elevação acumulada, quando você pensa que o pior já passou, surge o último desafio: uma subida brutal de 30% de inclinação em terra solta e pedras irregulares. Não é um final tradicional de sprint em asfalto plano – é uma parede vertical que separa os verdadeiros competidores dos exaustos.

Como descreveu um competidor: “Quando seus olhos olham para a estrada à frente… é uma parede de 30% feita de terra solta e sonhos despedaçados. Você consegue pedalar isso?”. Na reunião pré-corrida, os organizadores avisaram que alguns teriam que empurrar a bike. Para muitos, foi assustador. Mas para os líderes da categoria elite, foi uma oportunidade.

Esse trecho final se tornou o local perfeito para ganhar separação. Um ciclista com pernas ainda boas poderia colocar 10 segundos de vantagem sobre seus adversários em apenas algumas centenas de metros. E foi exatamente isso que Bradyn Lange fez ao conquistar o título nacional masculino em 2025.

O Crescimento do Gravel Racing

O ciclismo gravel está vivendo um momento de explosão global. O que começou como um nicho está se transformando em uma disciplina mainstream, com calendários cheios de eventos prestigiados como Unbound Gravel, SBT GRVL e os próprios Campeonatos Nacionais.

O USA Cycling reconheceu essa tendência e tem investido pesadamente na modalidade, incluindo a criação de uma Série Nacional Junior de Gravel para desenvolver jovens talentos. Eventos como Life Time Grand Prix, com prêmios substanciais, estão atraindo alguns dos melhores ciclistas do mundo, muitos vindos de disciplinas como ciclismo de estrada e mountain bike.

A região de La Crescent/La Crosse oferece condições ideais para gravel racing. Como explicou o diretor executivo do Explore La Crosse, A.J. Frels: “Há algo especial no lugar onde Wisconsin, Minnesota e Iowa se encontram. A Região Driftless, onde os glaciares da Era do Gelo não conseguiram nivelar a paisagem corrugada e primitiva, oferece um playground intocado de penhascos, cordilheiras e vales.”

Lições de Uma Corrida Profissional

Competir em nível profissional de gravel ensina lições valiosas que vão além do ciclismo:

  1. Preparação é tudo: Conhecer o percurso, treinar especificamente para os desafios e planejar cada detalhe fazem a diferença entre terminar e vencer.
  2. Equipamento adequado importa: A escolha certa de pneus, roupas e acessórios pode economizar minutos preciosos.
  3. Resiliência mental vence: Quando o corpo grita para parar, a mente precisa assumir o controle.
  4. Habilidades técnicas são subestimadas: Ser forte não basta – é preciso saber descer, fazer curvas e lidar com terrenos variados.
  5. Comunidade importa: O gravel racing tem um espírito único de camaradagem, mesmo em competições de elite.

O Futuro do Gravel Profissional

Com prêmios chegando a $20.000 nos campeonatos nacionais e eventos como o Unbound oferecendo ainda mais, o gravel está se profissionalizando rapidamente. Patrocinadores de peso como Vittoria estão investindo na modalidade, e a UCI (União Ciclística Internacional) já possui uma Série Mundial de Gravel.

Para ciclistas amadores, essas corridas oferecem uma oportunidade única de testar seus limites em percursos desafiadores, mas ao mesmo tempo acessíveis. Diferente das Grand Tours de estrada ou das descidas técnicas de downhill, o gravel combina endurance, técnica e aventura de uma forma que atrai cada vez mais adeptos.

Lauren Stephens, bicampeã nacional feminina, resumiu perfeitamente o espírito da modalidade após sua vitória: “O gravel é sobre ultrapassar seus próprios limites, sobre a jornada tanto quanto o destino.”

Mais que uma Corrida

Competir em uma corrida profissional de gravel é uma experiência transformadora. Não se trata apenas de cruzar uma linha de chegada, mas de toda a jornada: o planejamento meticuloso, as escolhas estratégicas, a batalha contra o próprio corpo e mente, e a conexão com uma comunidade apaixonada.

Se você está pensando em participar do seu primeiro evento de gravel, saiba que não precisa ser um atleta de elite para aproveitar. Existem categorias para todos os níveis, distâncias variadas e um ambiente incrivelmente acolhedor. O gravel racing democratiza o ciclismo competitivo de uma forma que poucas modalidades conseguem.

Para os profissionais, cada corrida é uma oportunidade de provar seu valor, conquistar a camisa de campeão nacional (Stars and Stripes) e escrever seu nome na história de uma modalidade em ascensão meteórica.

E você? Está pronto para encarar o desafio do gravel?

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