O encerramento do patrocínio da Caloi à equipe de Henrique Avancini, anunciado oficialmente em meados de novembro de 2025, representou um momento marcante e emocionalmente desafiador para toda a comunidade do mountain bike brasileiro. Após 11 anos de parceria vitoriosa, uma das estruturas mais importantes do ciclismo nacional chegou ao fim, deixando reflexões profundas sobre o mercado esportivo e o futuro da modalidade no país.
A Versão de Avancini: Uma Conversa Reveladora
Em uma conversa franca de 38 minutos realizada dias após o anúncio, Henrique Avancini compartilhou sua perspectiva sobre esse momento delicado. O bicampeão mundial de maratona de mountain bike revelou que, embora profundamente abalado, não ficou surpreso com a decisão da marca brasileira.

“São muitos anos de relacionamento com a marca”, declarou o atleta, demonstrando maturidade ao compreender o posicionamento empresarial. A realidade é que manter uma equipe de mountain bike do porte da Caloi Henrique Avancini Racing demanda investimentos significativos, e fabricantes de bicicletas precisam equilibrar paixão com sustentabilidade financeira.
Mudanças Estruturais na Caloi e o Pressentimento de Avancini
As transformações internas na Caloi começaram a dar sinais ainda no primeiro semestre de 2025. A chegada de novos executivos e, principalmente, a saída do diretor Eduardo Rocha – grande amigo e incentivador de Henrique – marcaram uma mudança de direcionamento na política de marketing da empresa.
Com sua experiência e visão estratégica, Avancini percebeu precocemente que o futuro da equipe estava comprometido. A alteração na mentalidade corporativa e no direcionamento dos recursos de marketing indicava que os investimentos em alto rendimento esportivo poderiam não ser mais prioridade para a marca.
O Sonho da Estrada e a Transparência nas Negociações
Um aspecto fundamental dessa história é o sonho antigo de Henrique Avancini de competir no ciclismo de estrada. Diferentemente do que muitos poderiam pensar, essa aspiração não foi mantida em segredo. A direção da Caloi foi informada com antecedência sobre o interesse do atleta em explorar essa nova modalidade.

O desafio estava em encontrar oportunidades que atendessem às exigências específicas do ciclismo de estrada UCI e que utilizassem bicicletas das marcas do grupo Pon. A Factor Racing, equipe eslovena de nível Continental, acabou se tornando a porta de entrada perfeita para essa nova fase da carreira de Avancini, permitindo que ele competisse em 2025 no Mundial de Ciclismo de Estrada em Ruanda.
O Sacrifício Pessoal pelo Projeto Coletivo
A trajetória de Henrique Avancini no mountain bike é repleta de decisões corajosas. Vale lembrar que ele deixou a equipe de fábrica da Cannondale, onde recebia o maior salário do momento, e recusou convites de outras equipes de fábrica importantes para perseguir o sonho de construir sua própria estrutura.
A Caloi Henrique Avancini Racing se tornou a maior equipe da América Latina, com orçamento adequado para competir no mais alto nível internacional. Para viabilizar esse projeto ambicioso, Avancini aceitou receber um salário anual simbólico, investindo toda sua energia e recursos na formação de novos talentos brasileiros.
O Impacto no Mountain Bike Brasileiro
A ausência da equipe de Avancini certamente deixará um vazio significativo no cenário nacional do mountain bike. A estrutura oferecida era única no continente, dedicada especialmente à formação e ao desenvolvimento de ciclistas em diferentes categorias.
Um diferencial importante era a filosofia de desenvolvimento de atletas: Henrique mantinha seus ciclistas por várias temporadas, respeitando o tempo de maturação de cada um. Atletas como Ulan Galinski, que em 2024 conquistou o título brasileiro de XCO e uma vaga olímpica, e Sabrina Oliveira, vice-campeã brasileira Sub-23, são exemplos do sucesso dessa metodologia.
Além do aspecto esportivo, a parceria entre Avancini e a Caloi resultou no desenvolvimento de bicicletas competitivas, com geometria moderna e bem ajustada. Ver produtos no pódio de competições de alto nível é extremamente relevante para qualquer marca, e essa missão foi cumprida com excelência durante 11 anos.
As Novas Regras da Copa do Mundo e Seus Impactos
As regras divulgadas pela UCI no final de 2024 para a Copa do Mundo de Mountain Bike trouxeram mudanças consideradas as maiores desde a criação do campeonato em 1991. Essas alterações dificultaram substancialmente a participação de ciclistas de países como o Brasil.
Para disputar uma etapa da Copa do Mundo, não basta mais ter um orçamento generoso. É necessário atender critérios rigorosos como estar bem posicionado no ranking mundial UCI, ser campeão nacional, integrar uma equipe forte e bem ranqueada, entre outros requisitos. As equipes agora são divididas em duas categorias:
- Gravity (Downhill e Enduro)
- Endurance (Cross-Country e Short Track)
Apenas 20 equipes de cada categoria podem participar da série mundial completa. Das vagas, 15 são distribuídas com base no ranking anual de equipes, e as cinco restantes são wild cards (convites) definidos pela UCI e pela Warner Bros. Discovery Sports.
Embora existam os convites wild cards, eles ficam a critério dos organizadores do Hemisfério Norte – os mesmos que retiraram a espetacular etapa de Araxá do calendário internacional após anos de sucesso.
O Futuro dos Atletas Brasileiros
É improvável que o novo regulamento tenha influenciado diretamente na decisão da Caloi, mas certamente compromete o futuro de talentos como Ulan Galinski, Sabrina Oliveira e Eiki Leoncio – além de todos os mountain bikers brasileiros que não ostentam a camisa de campeão nacional da temporada.
Ver novamente um brasileiro no pódio da Copa do Mundo pode levar algum tempo. O momento é complexo, e o corte de verbas é generalizado, afetando inclusive equipes europeias de médio porte. Avancini revelou que foi procurado por atletas estrangeiros que precisam de estrutura para permanecer no esporte.
A Nova Fase: Factor Racing e Ciclismo de Estrada
Em março de 2025, Henrique Avancini oficializou seu retorno às competições, desta vez no ciclismo de estrada profissional. Após anunciar sua aposentadoria em agosto de 2023, logo depois de conquistar o bicampeonato mundial de maratona, o atleta fluminense decidiu realizar um sonho de infância.
“Começo agora um novo projeto, que nasce de um sonho muito antigo meu de competir na estrada. Esse era um sonho de infância que foi ficando cada vez mais de lado pelo desenvolvimento da minha carreira”, declarou o ciclista ao anunciar sua entrada na Factor Racing.
A preparação foi intensa e silenciosa. Avancini passou meses treinando nas madrugadas, acordando às 4h da manhã para sessões extremamente exigentes, sem gerar expectativas no público. Em junho de 2025, ele estreou no Tour da Eslovênia, enfrentando 800 km e mais de 12.000 metros de altimetria acumulada.
Em setembro, conquistou mais um marco histórico ao participar do Mundial de Ciclismo de Estrada em Kigali, Ruanda, representando o Brasil na categoria elite – 18 anos após sua estreia na categoria júnior. Esse retorno também tem foco nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.
O Legado Continuará
Apesar do fim do patrocínio Caloi, Henrique Avancini não deu detalhes específicos, mas confirmou que vai continuar seu projeto pessoal no esporte nas próximas temporadas. Com a carreira vitoriosa que construiu no mountain bike, onde conquistou dois títulos mundiais, múltiplas vitórias em Copas do Mundo e representou o Brasil em Olimpíadas, não faltarão boas oportunidades.
O ciclista de 36 anos deixa claro que seu compromisso com o desenvolvimento do ciclismo brasileiro permanece intacto, independentemente das marcas envolvidas. Sua trajetória inspiradora continua motivando novos talentos a perseguir seus sonhos sobre duas rodas.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Por que a Caloi encerrou o patrocínio à equipe de Henrique Avancini?
O encerramento do patrocínio está relacionado a mudanças estruturais na empresa Caloi, incluindo a chegada de novos executivos e alterações no direcionamento dos recursos de marketing. Manter uma equipe de mountain bike de alto nível demanda investimentos significativos, e a empresa decidiu reposicionar suas prioridades comerciais.
2. Henrique Avancini ficou surpreso com o fim da parceria?
Não. Embora tenha ficado emocionalmente abalado, Avancini não se surpreendeu. Ele percebeu ainda no primeiro semestre de 2025 que o futuro da equipe estava comprometido devido às mudanças na mentalidade e nos investimentos da Caloi.
3. A decisão de Avancini de competir no ciclismo de estrada influenciou o fim da equipe?
Não diretamente. Henrique foi transparente com a Caloi sobre seu interesse em competir na estrada, e essa informação foi compartilhada com antecedência. A decisão da empresa teve mais relação com questões estratégicas internas do que com os planos pessoais do atleta.
4. Quantos anos durou a parceria entre Caloi e Henrique Avancini?
A parceria durou 11 anos, de 2014 a 2025. Durante esse período, a Caloi Henrique Avancini Racing se tornou a maior equipe de mountain bike da América Latina, revelando talentos e conquistando resultados expressivos no cenário nacional e internacional.
5. Qual foi o impacto das novas regras da Copa do Mundo de MTB?
As novas regras da UCI, implementadas em 2025, são consideradas as maiores mudanças desde a criação da Copa do Mundo em 1991. Elas dificultaram significativamente a participação de atletas e equipes de países com menor tradição no mountain bike, exigindo critérios como ranking mundial, títulos nacionais e filiação a equipes bem ranqueadas.
6. O que acontecerá com os atletas da equipe Caloi Henrique Avancini Racing?
Os atletas como Ulan Galinski, Sabrina Oliveira e Eiki Leoncio terão que buscar novas oportunidades. O cenário é desafiador, especialmente considerando as novas regras da Copa do Mundo e a retração geral de investimentos no mountain bike mundial.
7. Henrique Avancini continuará envolvido com o ciclismo?
Sim. Avancini está competindo no ciclismo de estrada pela equipe Factor Racing e confirmou que continuará seu projeto pessoal no esporte nas próximas temporadas. Seu compromisso com o desenvolvimento do ciclismo brasileiro permanece, independentemente das marcas patrocinadoras.
8. Qual era o diferencial da equipe Caloi Henrique Avancini Racing?
A equipe se destacava pela estrutura única na América Latina, foco no desenvolvimento de longo prazo dos atletas (mantendo-os por várias temporadas), base internacional na Itália para logística em competições europeias e filosofia de formar talentos respeitando o tempo de maturação de cada ciclista.
9. Como funciona o sistema de wild cards na Copa do Mundo de MTB?
As wild cards são convites especiais distribuídos pela UCI e pela Warner Bros. Discovery Sports para equipes que não estão entre as 15 melhores ranqueadas. São cinco convites por categoria (Gravity e Endurance), definidos com base em critérios como classificação de equipes UCI e perfis individuais dos atletas.
10. Qual é o futuro do mountain bike brasileiro após o fim da equipe?
O futuro apresenta desafios significativos. Sem a principal estrutura de formação do país, novos talentos terão mais dificuldade para se desenvolver. As novas regras da Copa do Mundo tornam ainda mais difícil para brasileiros competirem no mais alto nível. No entanto, o legado deixado por Avancini e a base de conhecimento criada podem inspirar novas iniciativas.
11. Quais foram as principais conquistas da equipe durante os 11 anos?
A equipe revelou diversos talentos brasileiros, conquistou títulos nacionais, teve atletas classificados para Jogos Olímpicos, participou regularmente de etapas da Copa do Mundo e contribuiu para o desenvolvimento de bicicletas competitivas da Caloi. Ulan Galinski, por exemplo, conquistou o título brasileiro de XCO em 2024 e garantiu vaga olímpica.
12. Henrique Avancini tem planos de retornar ao mountain bike?
Avancini não descartou completamente essa possibilidade, mas está focado atualmente em seu projeto no ciclismo de estrada. Ele mencionou que continuará envolvido com projetos relacionados ao ciclismo brasileiro, mas não deu detalhes específicos sobre um retorno competitivo ao mountain bike.
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