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Os Patrocinadores Mais Estranhos da História do Ciclismo Profissional

Descubra os patrocinadores mais bizarros da história do ciclismo profissional: de fabricantes de salames com Eddy Merckx a shampoos com cafeína, pisos laminados e até caviar de luxo. Uma jornada fascinante pelos bastidores comerciais do pelotão mundial.

Os Patrocinadores Mais Estranhos da História do Ciclismo Profissional

O ciclismo profissional sempre teve uma relação peculiar com seus patrocinadores. Diferente de outros esportes onde predominam marcas esportivas, o pelotão mundial transformou-se ao longo das décadas em um verdadeiro desfile de empresas dos setores mais inesperados. Esta característica única começou em meados dos anos 1950 e continua até hoje, criando algumas das parcerias mais memoráveis – e bizarras – do esporte mundial.

A Revolução dos Patrocínios Extra-Esportivos

Até a década de 1950, os patrocinadores do ciclismo eram exclusivamente fabricantes de bicicletas. Este cenário mudou drasticamente quando Fiorenzo Magni, lendário ciclista italiano, convenceu a empresa alemã Nivea a patrocinar sua equipe em 1954. A história conta que os corredores já utilizavam o creme facial Nivea para amaciar o forro de camurça dos shorts de ciclismo, tornando a parceria um caso natural de produto já integrado ao cotidiano do pelotão.

Esta quebra de paradigma abriu as comportas para uma enxurrada de patrocinadores completamente alheios ao universo do ciclismo, transformando os ciclistas em verdadeiros “outdoors ambulantes” de produtos e serviços dos setores mais diversos imagináveis.

Molteni: Quando Salames Encontraram Eddy Merckx

Se existe um patrocínio que simboliza a era de ouro do ciclismo, esse é Molteni. A empresa italiana de embutidos e salames, sediada em Arcore, próximo a Milão, patrocinou equipes de ciclismo entre 1958 e 1976, mas foi a chegada de Eddy Merckx em 1971 que transformou a marca em lenda.

Eddy Merckx
Eddy Merckx

O jornal italiano La Stampa noticiou a contratação com a manchete provocativa: “Merckx: o melhor homem-sanduíche”, brincando que “no final de uma temporada recorde, o belga troca café por salame”. A ironia era perfeita – Merckx deixava a equipe Faemino-Faema, patrocinada por fabricantes de máquinas de café expresso, para vestir o icônico uniforme laranja e preto da Molteni.

A gestão da Molteni tinha uma filosofia clara sobre o retorno do investimento em ciclismo: enquanto um comercial de TV durava apenas segundos e desaparecia da memória, um ciclista na frente de uma corrida poderia estar na televisão por horas a fio. Com Merckx, eles acertaram em cheio – o belga trouxe 10 compatriotas e seu diretor esportivo Guillaume Driessens, transformando a equipe italiana em belga overnight.

Durante os seis anos de Merckx na Molteni (1971-1976), a equipe conquistou mais de 650 vitórias, incluindo múltiplas edições do Tour de France, Giro d’Italia e clássicas monumentais. O uniforme laranja nunca mudou em 18 anos – uma consistência visual que contribuiu para torná-lo um dos mais reconhecíveis da história do esporte.

Curiosamente, a Molteni encerrou o patrocínio após problemas legais: os proprietários foram acusados de tentar evadir impostos alfandegários ao falsamente declarar que usavam carne importada para fazer salsichas destinadas à exportação. O esquema veio à tona quando uma remessa de 50 toneladas de “salsichas” destinada à Grécia foi descoberta contendo apenas embalagens recheadas com esterco.

Faema: O Expresso que Alimentou Campeões

Se Molteni representou os salames, Faema foi sinônimo de café de alta qualidade no pelotão. A fabricante italiana de máquinas de café expresso, fundada em 1945, revolucionou a indústria cafeeira em 1961 com o lançamento da lendária E61 – a primeira máquina a usar bomba mecânica para extrair café a aproximadamente 9 bars de pressão.

Faema
Faema

A Faema patrocinou equipes de ciclismo desde os anos 1950, mas seu momento de glória veio quando teve Eddy Merckx em suas fileiras entre 1968 e 1970, antes da mudança para a Molteni. A empresa entendeu cedo o valor da exposição televisiva proporcionada pelo ciclismo, especialmente nas grandes voltas e clássicas que mantinham a marca na tela por horas.

A conexão entre café e ciclismo fazia mais sentido do que aparentava – a cafeína sempre foi uma substância legal e amplamente utilizada por ciclistas para melhorar o desempenho e a concentração durante provas longas. Ter uma marca de café no uniforme era, de certa forma, publicidade de um “auxílio ergogênico” aceito pelo esporte.

Mapei: Quando Materiais de Construção Dominaram o Pelotão

A Mapei, fabricante italiana de materiais de construção (colas, argamassas, revestimentos), criou uma das equipes mais dominantes da história do ciclismo profissional entre 1993 e 2002. Seu uniforme multicolorido com padrão de “blocos de construção” em fundo azul tornou-se instantaneamente reconhecível e frequentemente aparecia no pódio das maiores corridas do mundo.

Mapei
Mapei

A equipe Mapei reuniu verdadeiras lendas: Tony Rominger (ex-detentor do recorde da hora), Johan Museeuw (especialista em clássicas), Oscar Freire, Paolo Bettini e até um jovem Fabian Cancellara em seus primeiros anos como profissional. Em 2005, pouco após o encerramento do patrocínio principal da Mapei, a equipe (então Quick Step) conquistou tanto o Campeonato Mundial de estrada quanto o contrarrelógio com Tom Boonen e Michael Rogers respectivamente.

A estratégia da Mapei era clara: em vez de focar no público geral, o investimento em ciclismo visava arquitetos, engenheiros e especificadores de obras – profissionais que assistiam às corridas e tomavam decisões de compra de materiais de construção para grandes projetos. Os eventos de hospitalidade da marca nas corridas permitiam que executivos da empresa entretivessem esses clientes-chave em ambientes exclusivos.

Quick-Step: Pisos Laminados que Conquistaram Monumentos

Outro gigante do setor de construção no ciclismo é a Quick-Step, fabricante de pisos laminados fundada no sudoeste da Flandres em 1960. A empresa entrou no pelotão em 2003 e mantém-se até hoje como uma das patrocinadoras mais longevas e bem-sucedidas do esporte, atualmente como Soudal Quick-Step (Soudal fabrica adesivos e selantes para construção).

Quick-Step
Quick-Step

Quando você assiste ao ciclismo com atenção, percebe que é possível literalmente “usar os dois patrocinadores juntos”: espalhe cola Soudal para fixar seu piso Quick-Step. Esta sinergia entre co-patrocinadores do mesmo setor não é coincidência, mas estratégia de marketing inteligente.

Curiosamente, embora a Quick-Step seja belga em suas origens, a empresa agora pertence à americana Mohawk Industries, uma gigante do setor de pisos comerciais e residenciais sediada em… Amsterdam, Nova York. A política de recrutamento cosmopolita da equipe ajuda a espalhar o nome do patrocinador muito além da Bélgica.

A equipe Quick-Step acumulou centenas de vitórias desde 2003, incluindo clássicas monumentais, etapas de Grandes Voltas e campeonatos nacionais. Nomes como Tom Boonen, Mark Cavendish, Julian Alaphilippe e Remco Evenepoel vestiram o distintivo uniforme azul da equipe.

Alpecin: Shampoo com Cafeína e o “Doping para Seu Cabelo”

Se você assiste ciclismo com comerciais, certamente conhece Alpecin. A marca alemã de shampoo com cafeína, parte do Dr. Wolff Group, usou o polêmico slogan “doping para seu cabelo” como estratégia de marketing. A ideia? O shampoo contém tanta cafeína que poderia estimular o crescimento capilar da mesma forma que a cafeína melhora o desempenho atlético.

Alpecin
Alpecin

O timing da entrada da Alpecin no ciclismo profissional não poderia ter sido pior do ponto de vista de relações públicas: logo após assinar com Jan Ullrich, o campeão alemão foi suspenso por doping. O slogan “doping para seu cabelo” pareceu menos inteligente naquele momento. Porém, a empresa não desistiu do esporte e hoje patrocina a Alpecin-Deceuninck, que possui, segundo muitos, “a melhor combinação de uniforme e bicicleta do pelotão”.

A equipe abriga estrelas como Mathieu van der Poel e Jasper Philipsen, garantindo exposição massiva em clássicas e sprints de Grandes Voltas. A Alpecin anteriormente patrocinou Giant-Alpecin e Katusha-Alpecin, demonstrando compromisso de longo prazo com o ciclismo apesar dos contratempos iniciais.

Katusha e o Caviar de 800 Libras

Em 2015, a equipe russa Katusha anunciou uma parceria com a Caviar de Riofrio, fornecedora de caviar preto premium. O diretor da equipe, Viacheslav Ekimov, tentou justificar: “Para nós, a colaboração com a Caviar de Riofrio é, antes de tudo, uma oportunidade de melhorar significativamente a dieta dos nossos corredores durante os períodos de corrida, especialmente nas Grandes Voltas”.

Katusha
Katusha

O ceticismo da imprensa foi imediato. Com uma lata de 500g de Caviar de Riofrio custando quase 800 libras esterlinas, e considerando que Joaquim Rodriguez provavelmente poderia consumir isso em uma única refeição, ficou claro que o acordo tinha mais a ver com status e marketing de luxo do que com nutrição esportiva propriamente dita.

A parceria exemplificou perfeitamente como o ciclismo russo da era Katusha buscava associar-se a produtos premium e luxuosos, elevando o perfil da equipe além do aspecto puramente esportivo. Alexander Kristoff, então corredor da Katusha, teve seu forte início de temporada atribuído humoristicamente ao “excesso de ovas de peixe” em sua dieta regular.

Baby-Dump e Outros Patrocinadores com Nomes Infelizes

A loja online holandesa de produtos para bebês Baby-Dump enfrentou um problema de tradução: enquanto “dump” em holandês significa algo como “barganha” ou “desconto”, em inglês a palavra tem conotações bastante desagradáveis relacionadas a lixo ou… bem, funções corporais.

Baby-Dump
Baby-Dump

Apesar do nome infeliz para audiências anglófonas, a empresa argumentou que havia lógica no patrocínio: pais de primeira viagem precisam cuidar melhor de si mesmos para cuidar de seus filhos. O ciclismo pode afastá-los da família temporariamente, mas os mantém em forma – algo que suas esposas raramente reclamam. A pesquisa de mercado da Baby-Dump supostamente confirmou que seu público-alvo estava no perfil demográfico dos fãs de ciclismo.

Eberspächer: Tecnologia de Escapamentos no Pelotão

Um dos patrocínios mais surpreendentes veio da Eberspächer, empresa alemã especializada em desenvolvimento de tecnologia de escapamento, aquecedores veiculares e sistemas de ar-condicionado para a indústria automotiva. A empresa também trabalha com redes eletrônicas em veículos.

A Eberspächer patrocinou o ciclista de trial Danny Macaskill, conhecido por suas acrobacias impossíveis em bicicleta. Embora pareça uma das alianças mais estranhas possíveis – o que escapamentos automotivos têm a ver com bicicletas? – isso reflete a tendência crescente de integração de transportes. Afinal, quanto tempo falta para que sua bicicleta esteja “conversando” com seu carro através de tecnologia conectada?

Patrocinadores Governamentais: O Novo Normal Controverso

Uma tendência mais recente e certamente controversa é o patrocínio estatal de equipes de ciclismo. Países do Golfo Pérsico têm investido pesadamente no esporte, gerando debates sobre “sportswashing” – o uso do esporte para melhorar a imagem internacional de regimes com históricos questionáveis de direitos humanos.

UAE Team Emirates representa o emirado de Abu Dhabi e Dubai, com a companhia aérea Emirates como patrocinadora principal. A equipe abriga Tadej Pogačar, múltiplo campeão do Tour de France, garantindo exposição global massiva.

Bahrain Victorious representa o reino do Bahrein, enquanto Astana leva o nome da capital do Cazaquistão. Mais recentemente, a Arábia Saudita entrou no jogo com AlUla, patrocinando a equipe Jayco. AlUla é uma antiga cidade da província de Medina sendo transformada em projeto turístico megabilionário, com forte envolvimento francês na consultoria e desenvolvimento.

Estes patrocínios levantam questões éticas que vão além do esporte: até que ponto o ciclismo deve aceitar dinheiro de governos com registros controversos? O debate permanece acalorado entre fãs, atletas e organizações.

Loterias, Apostas e Jogos: Francaise des Jeux, ONCE e Lotto

O setor de jogos de azar e loterias tem forte presença no ciclismo profissional. A francesa Française des Jeux (FDJ), operadora da loteria nacional da França, mantém equipe profissional há décadas, atualmente como Groupama-FDJ após receber investimento da seguradora Groupama.

A espanhola ONCE (loteria para cegos) patrocinou uma das equipes mais icônicas dos anos 1990 e início dos 2000, com seu uniforme amarelo simples refletindo as cores da marca. Durante o Tour de France, a equipe usava uniformes rosa para evitar confusão com a camisa amarela do líder.

Lotto-Soudal representa a loteria belga, sendo o patrocínio individual mais longo no pelotão profissional. No entanto, esta parceria enfrenta crescente escrutínio político na Bélgica, com parlamentares questionando se dinheiro de apostas públicas deve financiar ciclismo profissional.

Na Holanda, Jumbo (rede de supermercados) patrocina em parceria com Visma uma das equipes mais fortes do pelotão atual. Anteriormente, a loteria holandesa estava envolvida, demonstrando como o modelo de negócios evoluiu de jogos de azar para varejistas alimentícios – fazendo mais sentido considerando a quantidade de comida que ciclistas profissionais consomem diariamente.

Serramenti PVC-DIQUIGIOVANNI: Janelas e Portas no Giro

A italiana Serramenti, fabricante de esquadrias de PVC (janelas, portas, revestimentos), patrocinou equipes de ciclismo no início dos anos 2000. A marca ficou memorável por uma corrida particular: o Giro di Lombardia sob chuva torrencial, onde Michele Scarponi disputou com Philippe Gilbert.

Os ciclistas definitivamente poderiam ter usado alguma “proteção de PVC” naquelas condições molhadas – talvez a Serramenti fosse a inspiração perfeita para lidar com o clima mais severo. A conexão entre produtos de construção resistentes às intempéries e um esporte praticado sob todas as condições climáticas tinha sua própria lógica peculiar.

Tinkoff e os Postes de Concreto para Vinícolas

Enquanto caviar e cigarros podem ter alguma utilidade discutível para ciclistas, e reforma de casas pelos patrocinadores parece plausível, é difícil entender o benefício do acordo da Tinkoff-Saxo com o Spinazzè Group, fabricante de postes de concreto.

Mas não são postes comuns – são postes de concreto pré-tensionado fornecidos especificamente para vinhedos da região do Vêneto, onde o Prosecco é produzido. A conexão com ciclismo? Praticamente inexistente, exceto talvez que ciclistas apreciam uma boa taça de vinho após corridas duras. O patrocínio exemplifica como o ciclismo aceita praticamente qualquer empresa disposta a investir, independentemente da relevância do produto.

Conservatórios, Brinquedos e Outras Curiosidades

Thomas Voeckler, o carismático ciclista francês famoso por suas expressões faciais dramáticas durante esforços máximos, tornou-se rosto da Akena, empresa de conservatórios e estufas. A parceria individual demonstra como atletas populares podem atrair patrocinadores completamente alheios ao ciclismo.

Androni Giocattoli, equipe italiana de nível ProContinental, leva o nome de uma fabricante de brinquedos infantis conhecida por produtos de praia (baldes e pás) e um concorrente do Lego Duplo chamado Unico Plus. Ver o nome estampado em uniformes no Giro d’Italia sempre gerava perplexidade entre fãs internacionais.

Brooklyn, fabricante de chiclete, patrocinou equipes italianas nos anos 1970 e 1980. O uniforme com listras distintivas ganhou status icônico graças a Roger De Vlaeminck, apelidado de “Sr. Paris-Roubaix” por ser o primeiro homem a vencer a clássica quatro vezes. O chiclete Brooklyn ainda pode ser encontrado na Itália hoje.

Por Que Empresas Tão Diversas Patrocinam Ciclismo?

A diversidade aparentemente caótica de patrocinadores no ciclismo profissional tem explicações estratégicas sólidas:

  • Exposição prolongada na TV: Diferente de comerciais que duram segundos, ciclistas na frente de corridas aparecem na tela por horas, especialmente em transmissões de Grandes Voltas que podem durar 4-6 horas diárias por três semanas.
  • Alcance internacional: O Tour de France é transmitido para mais de 190 países, oferecendo exposição global que poucos esportes podem igualar.
  • Demografia qualificada: Fãs de ciclismo tendem a ser profissionais educados, tomadores de decisão em empresas – exatamente o público que fabricantes de materiais de construção, por exemplo, querem alcançar.
  • Custo-benefício: Comparado a outros esportes profissionais, patrocinar ciclismo é relativamente acessível. Times de futebol ou Fórmula 1 exigem orçamentos muito maiores.
  • Flexibilidade geográfica: Uma equipe de ciclismo compete por toda a Europa (e além), levando a marca a mercados múltiplos com um único investimento.
  • Hospitalidade corporativa: Corridas oferecem oportunidades premium para entreter clientes importantes em ambientes exclusivos, com acesso aos bastidores.
  • Associação com valores positivos: Ciclismo evoca saúde, resistência, determinação e espírito de equipe – valores que empresas de qualquer setor querem associar às suas marcas.

O Futuro: Tecnologia, Cripto e IA

Os patrocinadores estranhos do ciclismo estão evoluindo com os tempos. Empresas de tecnologia e inteligência artificial estão entrando no esporte, como a Analog AI, startup de IA com sede nos Emirados Árabes Unidos que patrocina a equipe de Tadej Pogačar.

Criptomoedas também flertar com o ciclismo, embora com resultados mistos devido à volatilidade do setor. Empresas de computação em nuvem como Dimension Data (agora parte da NTT) investiram no esporte, atraídas pelo perfil técnico da audiência.

O padrão permanece: empresas de setores completamente inesperados continuarão transformando o pelotão profissional em um fascinante mosaico de marcas, produtos e serviços que, à primeira vista, não têm absolutamente nada a ver com pedalar.

A Beleza da Diversidade

O que torna o ciclismo profissional único é precisamente esta abertura para patrocinadores não-endêmicos. Enquanto outros esportes são dominados por marcas esportivas, o pelotão celebra sua diversidade de apoiadores.

Esta característica criou alguns dos uniformes mais icônicos do esporte: o laranja e preto da Molteni, os blocos multicoloridos da Mapei, o amarelo da ONCE, o azul da Quick-Step. Cada um conta uma história sobre uma empresa que viu valor em associar sua marca ao sofrimento, glória e drama do ciclismo profissional.

Então, da próxima vez que você assistir a uma corrida e se perguntar “o que diabos essa empresa faz?”, lembre-se: essa pergunta é parte essencial da experiência do ciclismo moderno. E sim, eles provavelmente fabricam algo completamente inesperado – e adoram que você esteja curioso o suficiente para descobrir.


Perguntas Frequentes (FAQ) Sobre Patrocinadores do Ciclismo

1. Por que o ciclismo profissional tem patrocinadores tão estranhos?

O ciclismo abriu-se para patrocinadores extra-esportivos em 1954, quando Fiorenzo Magni convenceu a Nivea a patrocinar sua equipe. Diferente de outros esportes, o ciclismo oferece exposição televisiva prolongada (horas de transmissão), alcance internacional massivo e custos relativamente acessíveis comparados a futebol ou Fórmula 1, atraindo empresas de todos os setores imagináveis.

2. O que a Molteni fabricava e por quanto tempo patrocinou ciclismo?

A Molteni era uma fabricante italiana de salames e embutidos sediada em Arcore, próximo a Milão. A empresa patrocinou equipes de ciclismo entre 1958 e 1976, conquistando mais de 650 vitórias, especialmente após contratar Eddy Merckx em 1971. O icônico uniforme laranja e preto nunca mudou em 18 anos, tornando-se um dos mais reconhecíveis da história do esporte.

3. Qual a relação entre Mapei e ciclismo?

A Mapei, fabricante italiana de materiais de construção (colas, argamassas, revestimentos), criou uma superequipe entre 1993 e 2002 com ciclistas como Tony Rominger, Johan Museeuw, Paolo Bettini e Fabian Cancellara. O patrocínio visava arquitetos, engenheiros e especificadores de obras – profissionais que assistiam corridas e tomavam decisões de compra de materiais para grandes projetos.

4. Por que shampoo Alpecin patrocina ciclismo?

A Alpecin fabrica shampoo com cafeína e usou o slogan “doping para seu cabelo”, fazendo conexão direta com o ciclismo onde cafeína é legal e amplamente usada para melhorar desempenho. Apesar de controvérsias iniciais (patrocinaram Jan Ullrich pouco antes de sua suspensão por doping), mantêm compromisso com o esporte e hoje patrocinam a equipe de Mathieu van der Poel.

5. Quais empresas de piso laminado patrocinam ciclismo?

Quick-Step (pisos laminados) é a mais famosa, no pelotão desde 2003, atualmente como Soudal Quick-Step. Anteriormente, Ariostea (1988-1992) e Mapei também eram do setor de revestimentos. A lógica: usar os dois patrocinadores juntos – espalhe cola Soudal para fixar seu piso Quick-Step. O público-alvo são profissionais de construção e arquitetura que assistem corridas.

6. É verdade que uma equipe foi patrocinada por caviar?

Sim! Em 2015, a equipe russa Katusha anunciou parceria com Caviar de Riofrio, fornecedora de caviar preto premium. Uma lata de 500g custava quase 800 libras esterlinas. O diretor Viacheslav Ekimov alegou que melhoraria a dieta dos corredores, mas a imprensa viu claramente como estratégia de marketing de luxo e status mais do que nutrição esportiva real.

7. Quais governos patrocinam equipes de ciclismo profissional?

Emirados Árabes Unidos (UAE Team Emirates com Tadej Pogačar), Bahrein (Bahrain Victorious), Cazaquistão (Astana) e Arábia Saudita (AlUla patrocinando Jayco) investem em ciclismo. Estes patrocínios estatais são controversos, com debates sobre “sportswashing” – uso do esporte para melhorar imagem internacional de países com históricos questionáveis de direitos humanos.

8. Faema fabricava o quê e qual sua importância histórica?

Faema fabricava máquinas de café expresso de alta qualidade, revolucionando o setor em 1961 com a E61, primeira máquina com bomba mecânica a 9 bars de pressão. Patrocinaram ciclismo desde os anos 1950, tendo Eddy Merckx em suas fileiras entre 1968-1970 antes de sua mudança para a Molteni. A conexão café-ciclismo fazia sentido: cafeína sempre foi legal e usada por ciclistas para melhorar desempenho.

9. Loterias realmente patrocinam equipes de ciclismo?

Sim, várias: Française des Jeux (FDJ) opera a loteria francesa, ONCE era loteria espanhola para cegos (1990-2004), Lotto-Soudal representa loteria belga (patrocínio mais longo individualmente no pelotão). Este modelo enfrenta crescente escrutínio político, com parlamentares questionando se dinheiro público de apostas deve financiar ciclismo profissional. Na Holanda, a loteria nacional anteriormente patrocinava equipes.

10. Qual foi o patrocinador mais estranho da história do ciclismo?

Subjetivamente, Eberspächer (tecnologia de escapamento automotivo) patrocinando Danny Macaskill compete com Spinazzè Group (postes de concreto pré-tensionado para vinhedos de Prosecco) patrocinando Tinkoff-Saxo. Menções honrosas: Baby-Dump (loja de bebês holandesa com nome infeliz em inglês), Akena (conservatórios/estufas com Thomas Voeckler), e Androni Giocattoli (brinquedos de praia e baldes). Todos demonstram que ciclismo aceita praticamente qualquer empresa disposta a investir, independente da conexão lógica com o esporte.

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