A temporada 2026 do ciclismo mundial já está tomando forma e promete trazer mudanças significativas que vão emocionar os fãs do esporte. Enquanto a Austrália se prepara para receber a primeira grande prova do calendário WorldTour com novidades importantes no percurso, a Europa vê uma de suas clássicas mais tradicionais passar por uma transformação histórica em seu nome.
Santos Tour Down Under 2026: A Porta de Entrada da Temporada
Como manda a tradição, o Santos Tour Down Under será responsável por dar início oficial à temporada 2026 do ciclismo profissional. Programada para acontecer entre 20 e 25 de janeiro, a corrida australiana traz um ingrediente especial que promete deixar a disputa ainda mais emocionante desde o primeiro dia.
Prólogo em Adelaide Retorna Após Anos de Ausência
A grande novidade desta edição é o retorno do prólogo em Adelaide, apenas a segunda vez na história da prova que o formato será utilizado. Os ciclistas enfrentarão um contrarrelógio explosivo de 3,6 quilômetros pelas ruas da capital sul-australiana, num percurso que promete ser veloz e tecnicamente desafiador.

O trajeto começará próximo à Victoria Square, seguindo pela Wakefield Street, descendo pela East Terrace até entrar no Victoria Park pela Halifax Street, onde os competidores completarão uma volta antes de cruzar a linha de chegada em frente à arquibancada histórica do parque. A atmosfera promete ser elétrica, com a tradicional rampa de largada de contrarrelógio e a hot seat para o líder provisório.
Como explica o diretor de prova Stuart O’Grady: “O feedback das equipes foi que eles queriam uma corrida mais agressiva, então trouxemos o prólogo de volta, o que cria uma oportunidade para os ciclistas que buscam a camisa ocre de tomarem tempo desde o primeiro dia”. A disputa pela Santos Ochre Leader’s Jersey estará acirrada desde o início.
Primeira Etapa: Tanunda e as Menglers Hills

No dia 21 de janeiro, a primeira etapa propriamente dita levará o pelotão por 120 quilômetros com largada e chegada em Tanunda. O percurso inclui três passagens pela Montanha Menglers, desta vez pelo lado menos íngreme que em 2025, acumulando 1.541 metros de altimetria. Apesar do perfil ondulado, a expectativa é de que sprinters disputem a vitória no final.
Etapas Intermediárias: Onde a Corrida Se Define
A segunda etapa, marcada para 22 de janeiro, será um teste de fogo para os favoritos ao título. Com 148 quilômetros entre Norwood e Uraidla, os ciclistas encararão logo na largada a subida até Norton Summit (10 km a 4%), seguida por duas passagens pela temida Corkscrew Road (3,3 km a 7,1%). Este será um dia decisivo que deve provocar as primeiras grandes mudanças na classificação geral.

A terceira etapa, de Henley Beach a Nairne, apresenta 140 quilômetros com trechos ondulados e subidas moderadas. Mesmo com quase 2.500 metros de desnível acumulado, o desenho do percurso pode favorecer tanto uma fuga bem-sucedida quanto sprinters com boa capacidade de resistência em terrenos quebrados.

Willunga Hill: O Ícone Australiano em Dose Tripla
O sábado, 24 de janeiro, será marcado pela etapa rainha da competição. Pela primeira vez na história, os participantes enfrentarão três subidas à lendária Willunga Hill, a escalada mais icônica do ciclismo australiano e verdadeiro símbolo do Tour Down Under.

O percurso de 176 quilômetros entre Brighton e Willunga Hill é estrategicamente desenhado: a primeira ascensão acontece logo nos quilômetros iniciais, seguida por uma longa seção intermediária antes das duas escaladas finais na emblemática montanha, eternizada pelo grande Richie Porte, que conquistou a subida sete vezes em sua carreira.
Com aproximadamente 2.500 metros de altimetria total, esta etapa deve definir o vencedor da prova, separando os verdadeiros escaladores dos pretendentes ao pódio.
Stirling: O Último Desafio

Diferentemente dos anos anteriores, a última etapa não será uma chegada tradicional para sprinters. O domingo, 25 de janeiro, reserva um circuito técnico de 169,8 quilômetros em Stirling, com aproximadamente 3.400 metros de desnível acumulado distribuídos em oito voltas de um traçado de 21 quilômetros repleto de subidas curtas e explosivas.
“A disputa pela camisa ocre pode ir até o último quilômetro”, antecipa O’Grady, destacando que a mudança atende ao pedido das equipes por uma corrida mais imprevisível e emocionante.
Gante-Wevelgem Se Torna “Nos Campos de Flandes” em 2026
Enquanto a Austrália se prepara para abrir a temporada, a Bélgica anuncia uma mudança histórica. A Gante-Wevelgem, clássica com 91 anos de história desde sua primeira edição em 1934, passará a se chamar “In Flanders Fields – From Middelkerke to Wevelgem” (Nos Campos de Flandes – De Middelkerke a Wevelgem) a partir da 88ª edição, programada para 29 de março de 2026.
A Razão Por Trás da Mudança
A decisão de alterar o nome reflete uma realidade que já vinha se consolidando há anos: desde 2003, a prova não parte mais da cidade de Gante. Após 17 anos com largada em Deinze, a corrida agora terá início em Middelkerke, cidade costeira do Mar do Norte que recentemente sediou o Campeonato Europeu de Ciclocross.
A mudança foi negociada com a Flanders Classics, organizadora da prova, mediante um acordo de longo prazo que se estenderá até 2035. Middelkerke investirá 175.000 euros para sediar a largada e ter seu nome incluído no título da corrida. Segundo Tomas Van Den Spiegel, diretor da Flanders Classics: “O ciclismo é um esporte com rica história, mas o apoio governamental faz parte do nosso modelo. As corridas são gratuitas e as cidades investem nelas”.
Preservando a Memória da Primeira Guerra Mundial
Apesar da mudança na largada, a organização garante que o espírito histórico da prova será mantido. O novo nome faz referência direta aos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, elemento que sempre esteve profundamente entrelaçado com a identidade da corrida.
Van Den Spiegel reforça esse compromisso: “A Grande Guerra sempre permanecerá profundamente entrelaçada com esta carrera”. O percurso continuará passando pelo centro de Ypres, cidade histórica que simboliza os sacrifícios da guerra, preservando assim a tradição de homenagear os campos de Flandes que foram palco de batalhas há mais de um século.
Palmarés Permanece Intacto
É importante ressaltar que a mudança de nome não altera o palmarés histórico da prova. A clássica continua sendo a mesma competição que viu grandes campeões ao longo de quase um século. Os maiores vencedores permanecem como referência:
- Mads Pedersen: 3 vitórias (2020, 2024 e 2025)
- Peter Sagan: 3 vitórias (2013, 2016 e 2018)
- Tom Boonen: 3 vitórias (2004, 2011 e 2012)
- Eddy Merckx: 3 vitórias (1967, 1970 e 1973)
- Rik Van Looy: 3 vitórias (1956, 1957 e 1962)
- Mario Cipollini: 3 vitórias (1992, 1993 e 2002)
- Robert Van Eenaeme: 3 vitórias (1936, 1937 e 1945)
Prova Feminina e Categorias Juvenis
A corrida feminina manterá tanto largada quanto chegada em Wevelgem, devido aos limites máximos de quilometragem estabelecidos pela UCI para as categorias femininas. Já as provas juvenis continuarão partindo de Ypres, preservando a conexão com a cidade histórica nas categorias de base.
Temporada 2026: Tradição e Inovação Lado a Lado
As novidades para 2026 demonstram como o ciclismo profissional equilibra respeito à tradição com necessidade de evolução. Enquanto o Tour Down Under reinventa seu formato para tornar a corrida mais emocionante e imprevisível, a clássica belga adapta seu nome à realidade geográfica sem perder a essência histórica que a define.
Para os fãs brasileiros, a temporada começará nas primeiras horas do dia 20 de janeiro, quando o prólogo em Adelaide der a largada oficial ao calendário WorldTour. Será o momento perfeito para acompanhar os principais times do pelotão internacional em ação, incluindo todas as 15 equipes WorldTeam femininas que estarão presentes na corrida das mulheres, programada para acontecer entre 17 e 19 de janeiro.
A prova australiana também marca o início da busca pelos pontos do ranking UCI, fundamentais para as equipes garantirem suas posições nas principais corridas do ano. Com um percurso mais desafiador e variado, o Tour Down Under 2026 promete ser um verdadeiro teste para os candidatos às grandes conquistas da temporada.
Já a clássica “Nos Campos de Flandes” – como os aficionados do esporte precisarão se acostumar a chamar – mantém sua posição estratégica no calendário, disputada no último domingo de março, dois dias antes do Tour de Flandes, servindo como preparação ideal para um dos cinco monumentos do ciclismo.
O que fica claro é que 2026 será um ano de transformações significativas no ciclismo mundial, mas sempre preservando os valores e a história que tornam esse esporte tão especial. Da Austrália à Bélgica, passando por todas as grandes voltas e clássicas, os fãs terão motivos de sobra para acompanhar cada pedalada de uma temporada que promete entrar para os livros de história.
Saiba mais:
- Site Oficial Tour Down Under
- União Ciclística Internacional (UCI)
- Flanders Classics
- ProCyclingStats – Estatísticas e Resultados

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