A temporada 2025/26 da Copa do Mundo de Ciclocross UCI começou de forma espetacular em Tábor, República Tcheca, com Lucinda Brand e Thibau Nys, ambos da equipe Baloise Glowi Lions, conquistando vitórias dominantes em suas respectivas categorias. E qual foi o denominador comum dessas performances impressionantes? As icônicas Trek Boone RSL, bikes de ciclocross que continuam provando seu valor nos circuitos mais exigentes do mundo.
O Domínio em Tábor: Quando a Preparação Encontra a Performance
Em condições de frio extremo, com temperaturas abaixo de zero que mantiveram o percurso tcheco congelado durante dias, Brand e Nys demonstraram por que são considerados dois dos melhores ciclistas de ciclocross da atualidade. A neerlandesa, campeã mundial de 2021, garantiu sua primeira vitória na Copa do Mundo da temporada após uma corrida estratégica, enquanto o belga, atual campeão nacional e europeu, dominou do início ao fim em uma exibição de força pura.
Com o circuito praticamente congelado, muitos pilotos conseguiram manter a mesma bicicleta durante toda a prova – uma raridade no ciclocross, onde trocas frequentes são a norma em condições lamacentas. Brand começou em uma de suas bikes verde-claro, mas migrou para o modelo azul na terceira volta, mantendo-se nela até cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Já Nys permaneceu com sua Boone verde do início ao fim, construindo uma vantagem que chegou a ser de quase um minuto sobre seus perseguidores.
Trek Boone RSL: Uma Máquina que Desafia o Tempo
O mais surpreendente sobre essas vitórias? A Trek Boone permanece praticamente inalterada desde seu lançamento há mais de quatro anos, para a temporada 2021/22. Em um mundo ciclístico obcecado por inovação constante e lançamentos anuais, essa bike prova que um bom projeto simplesmente não envelhece.
Desenvolvida com a expertise da lenda do ciclocross Sven Nys – pai de Thibau e ex-campeão mundial – a Boone incorpora tecnologias que continuam sendo referência no pelotão profissional. O sistema IsoSpeed traseiro, uma micro-suspensão que absorve as irregularidades do terreno sem comprometer a eficiência da pedalada, é especialmente valorizado pelos pilotos de cross, que enfrentam circuitos brutalmente exigentes.
Especificações Técnicas das Bikes Vencedoras
As Trek Boone RSL de Brand e Nys compartilham uma configuração surpreendentemente similar, com diferenças apenas nos tamanhos de quadro e pequenos ajustes de fit:
- Quadro: Carbono OCLV série 600 com tecnologia IsoSpeed traseira
- Transmissão: SRAM Red AXS wireless 12 velocidades com amortecimento Orbit Fluid
- Freios: SRAM Red AXS a disco com design esculpido
- Cassete: 10-36T (sem necessidade do setup Xplr de maior alcance)
- Cockpit: Bontrager VR-C integrado em carbono
- Selim: Bontrager Aeolus
- Rodas: Bontrager Aeolus RSL tubulares em carbono com 37mm de profundidade
- Pneus: Brand usa Dugast Typhoon (agora propriedade da Vittoria), enquanto Nys prefere Challenge Grifo Ultra com carcaça de seda
As Diferenças Sutis que Fazem Toda a Diferença
Lucinda Brand compete com um quadro tamanho 49cm, equipado com um cockpit de alcance mais curto e um espaçador de 1cm sob a mesa integrada. Sua bike também apresenta um garfo com 5mm extras de offset para compensar o ângulo do tubo de direção 1° mais reclinado dos quadros menores, mantendo a mesma geometria de direção (Trail) e consequentemente a mesma agilidade dos quadros maiores.
Thibau Nys, por sua vez, pilota um quadro 56cm com cockpit ligeiramente mais longo e sem espaçadores além da cobertura superior do rolamento da direção que guia os cabos para dentro do quadro. Essa configuração mais agressiva reflete seu estilo de pilotagem explosivo e sua preferência por uma posição mais baixa e aerodinâmica.
A Temporada Promissora de Brand e Nys
Lucinda Brand iniciou 2025/26 da melhor forma possível. Com 35 anos, a neerlandesa está em uma fase impressionante de sua carreira. Além da vitória em Tábor, ela já acumula sete vitórias nesta temporada, incluindo triunfos no Koppenbergcross e no Flandriencross. Brand estende agora sua sequência de pódios consecutivos para 51 corridas, igualando o recorde de sua compatriota Marianne Vos.
A ciclista, que compete na estrada pela Lidl-Trek e no ciclocross pela Baloise Glowi Lions, demonstra uma consistência notável. Seu palmarés no cross inclui o título mundial de 2021, três títulos gerais da Copa do Mundo (2021, 2022 e liderando a edição atual de 2025) e mais de 20 vitórias individuais em provas da Copa do Mundo.
Thibau Nys, aos 22 anos, representa a nova geração do ciclocross. O jovem belga vem construindo um currículo impressionante tanto na estrada quanto no off-road. Na temporada 2024/25 de estrada, conquistou o Tour da Hungria e o GP Miguel Induráin, além de um notável quinto lugar na Liège-Bastogne-Liège.
No ciclocross, Nys já é campeão nacional belga e campeão europeu, com esta sendo sua terceira vitória individual em provas da Copa do Mundo. Sua declaração de intenções para a temporada foi clara: “Eu não treino para ganhar, eu treino para dominar”, disse em entrevista ao canal YouTube de sua equipe.
O Que Torna a Trek Boone Tão Especial?
A designação RSL (Race Shop Limited) sugere características específicas para corrida, mas a Trek é clara ao afirmar que a Boone já é uma bike dedicada às competições desde sua concepção. O conforto adicional vem exclusivamente do pivô IsoSpeed traseiro, proporcionando aquela flexibilidade na traseira que os pilotos de cross tanto apreciam ao enfrentar terrenos irregulares.
Embora o ciclocross raramente use suportes para garrafas durante as provas, as bikes da Baloise mantêm essas fixações para treinos e ocasionais corridas em clima quente. A Trek também esclarece que seu carbono OCLV série 600 é perfeitamente adequado para o ciclocross – oferecendo leveza, rigidez e durabilidade suficientes para suportar as condições frequentemente brutais das corridas de cross.
Por Que Não Vemos Mais Inovações no Ciclocross?
Nos últimos anos, o desenvolvimento de bikes específicas para ciclocross diminuiu significativamente. As bikes de gravel, mais versáteis, assumiram grande parte do espaço de desenvolvimento no segmento off-road com guidão drop. Muitos fabricantes focam suas inovações nessa categoria em crescimento, deixando o ciclocross como um nicho mais especializado.
Atualmente, a Trek vende a Boone apenas como frameset, permitindo que cada comprador monte sua própria configuração personalizada de corrida. Mas será que uma nova geração da Boone está nos planos da Trek? Por enquanto, o modelo atual continua provando que não precisa de atualizações para permanecer competitivo nos mais altos níveis do esporte.
O Legado de Sven Nys na Trek Boone
É impossível falar da Trek Boone sem mencionar Sven Nys, lenda belga do ciclocross e pai de Thibau. Sven foi fundamental no desenvolvimento da bike, trazendo décadas de experiência em competições de alto nível. E foi justamente ele quem recebeu tanto Brand quanto seu filho na linha de chegada após as vitórias em Tábor – um momento emocionante que conecta gerações do esporte.
Sven Nys conquistou dois títulos mundiais (2005 e 2013) e venceu inúmeras clássicas do ciclocross durante sua carreira. Sua expertise na definição da geometria, posicionamento e características da Boone continua sendo um dos segredos do sucesso da bike.
Comparando com Outras Opções do Mercado
Enquanto a Trek Boone domina em Tábor, outras marcas também têm presença forte no pelotão profissional. Fabricantes como Specialized com a Crux, Canyon com a Inflite, e Giant com a TCX oferecem alternativas competitivas.
No entanto, a combinação de tecnologia IsoSpeed, geometria específica de cross desenvolvida com input de campeões mundiais, e construção em carbono OCLV tornam a Boone uma escolha natural para pilotos que buscam o topo do pódio. A presença constante da bike nos lugares mais altos das competições UCI é prova dessa excelência.
O Futuro do Ciclocross Profissional
A temporada 2025/26 promete ser uma das mais competitivas dos últimos anos. Com Brand dominando o feminino e Nys mostrando força no masculino, a disputa pelo título da Copa do Mundo está apenas começando. Outros nomes importantes como Fem van Empel, Puck Pieterse, Wout van Aert e Mathieu van der Poel ainda devem entrar em cena conforme a temporada avança.
A próxima etapa da Copa do Mundo acontecerá em Flamanville, França, no dia 30 de novembro. Será interessante observar se Brand e Nys conseguirão manter o momentum das vitórias em Tábor, ou se veremos novos vencedores conforme o calendário se desenrola pelas exigentes provas belgas que caracterizam o coração da temporada de ciclocross.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quanto custa uma Trek Boone RSL?
A Trek Boone está disponível apenas como frameset (quadro + garfo) por aproximadamente US$ 2.300. As versões completas montadas, como a Boone 5 e Boone 6, variam entre US$ 4.000 e US$ 6.000 dependendo da especificação de componentes.
2. Qual a diferença entre a Trek Boone e uma bike de gravel?
A Boone possui geometria mais agressiva focada em competições de ciclocross, com tubo superior mais curto para facilitar o transporte da bike no ombro durante as corridas. Também tem clearance de pneus otimizado para ciclocross (até 38mm) e é mais leve que bikes de gravel. As gravel bikes, como a Trek Checkpoint, são mais confortáveis para longas distâncias e aceitam pneus mais largos.
3. O que é a tecnologia IsoSpeed da Trek?
O IsoSpeed é um sistema de micro-suspensão que desacopla parcialmente o tubo do selim do restante do quadro, permitindo movimento vertical controlado. Isso absorve vibrações e impactos sem comprometer a rigidez lateral necessária para pedalar com eficiência, especialmente valioso nos terrenos irregulares do ciclocross.
4. Quem são os principais ciclistas que usam a Trek Boone?
Além de Lucinda Brand e Thibau Nys, a equipe Baloise Glowi Lions compete integralmente com Trek Boone. Outros ciclistas profissionais patrocinados pela Trek ao redor do mundo também utilizam a bike em competições nacionais e internacionais de ciclocross.
5. A Trek Boone é adequada para iniciantes no ciclocross?
Embora a Boone seja projetada para competições de alto nível, ciclistas iniciantes sérios sobre ciclocross podem se beneficiar dela. No entanto, para quem está começando, modelos mais acessíveis como a Trek Crockett ou bikes de gravel podem ser opções mais práticas e econômicas.
6. Qual o peso de uma Trek Boone RSL montada?
O peso varia conforme a especificação dos componentes, mas uma Boone montada com grupo SRAM Force e rodas de carbono pesa aproximadamente 7,8-8,2 kg. As versões profissionais de Brand e Nys, com componentes top de linha, ficam na faixa de 7,5 kg.
7. Posso usar a Trek Boone para pedalar na estrada ou gravel?
Sim, absolutamente! A Boone é excelente para treinos de estrada e pode ser usada em rotas de gravel. Sua geometria mais agressiva a torna especialmente boa para treinos intensos. Muitos ciclistas de ciclocross usam a mesma bike para treinos de estrada durante a semana e competições de cross nos finais de semana.
8. Qual a durabilidade do carbono OCLV série 600 da Trek?
O carbono OCLV série 600 é especificamente projetado para resistir aos rigores do ciclocross. É mais durável que o carbono série 700 (mais leve mas mais frágil), mantendo excelente rigidez e leveza. Com cuidados adequados, o quadro pode durar muitos anos mesmo em uso competitivo intenso.
9. Por que profissionais como Brand e Nys não usam transmissão SRAM Xplr?
Pilotos com grande suporte de equipe preferem o SRAM Red AXS tradicional porque podem trocar coroas rapidamente entre corridas para otimizar a relação para cada percurso específico. O sistema Xplr 13v oferece maior alcance, mas adiciona peso – algo que pilotos de elite evitam quando podem ter mecânicos ajustando suas bikes perfeitamente para cada corrida.
10. Onde posso comprar uma Trek Boone no Brasil?
As bikes Trek são vendidas através de revendedores autorizados em todo o Brasil. É recomendável visitar uma loja Trek para fazer um bike fit adequado e conhecer pessoalmente o modelo. A Trek também oferece o serviço Project One para personalização completa de pintura e componentes.
11. Qual a manutenção necessária para uma bike de ciclocross?
Bikes de ciclocross exigem manutenção mais frequente devido às condições severas. Limpeza completa após cada uso lamacento é essencial, verificação regular da transmissão e freios, troca frequente de corrente (a cada 1.500-2.000 km em condições de cross), e inspeção periódica de rolamentos e áreas de estresse do quadro são fundamentais.
12. Tubular ou pneu com aro? O que os profissionais preferem?
A maioria dos profissionais ainda prefere pneus tubulares por sua leveza, sensação de pilotagem e menor chance de furos repentinos. No entanto, pneus tubeless estão ganhando espaço rapidamente pela praticidade e performance comparável. Brand e Nys competem com tubulares Bontrager Aeolus RSL, mas muitos amadores obtêm excelentes resultados com sistemas tubeless.
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